Periferia – um território minado.
Colunista: Zulu Araújo
O Governo Federal está assustado com o resultado das últimas pesquisas sobre a avaliação do seu desempenho. O Presidente Lula convocou todos os ministros para avaliar a situação. A desaprovação ao Governo subiu cinco pontos, (34%) apesar de todos os dados positivos que gestão Federal tem apresentado.
A economia está se recuperando, (3% de crescimento do PIB), Inflação abaixo do teto, (pela primeira vez nos últimos três anos). Bolsa de Valores em alta (fechou o ano batendo recordes) e o dólar abaixo de 5 reais.
Programas populares como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e o reajuste real do salário mínimo, (promessas de campanha cumpridas). Desemprego em queda, apenas 7,5% em novembro (melhor resultado nos últimos nove anos) e credibilidade internacional em alta.
Ou seja, a vida está melhorando para o povo preto e pobre da periferia, o governo vai bem, mas a aprovação do governo não. Pelo contrário, a avaliação negativa só cresce. O que está acontecendo, então?
O clássico enigma – “Decifra-me ou te devoro” está mais do que atual para os democratas brasileiros, e mais ainda para o governo federal. Na verdade, nem o governo, nem a esquerda, nem os setores progressistas do país tem conseguido chegar na periferia, espaço onde estão os grandes beneficiários dos programas do governo.
O que tem chegado na periferia brasileira, e com muita força, é o puro suco do conservadorismo: pregação evangélica negacionista, (feita por grupos religiosos neopentescostais) impregnada de preconceitos de todas as ordens.
Do mesmo modo tem chegado as milícias e o crime organizado, com suas interfaces políticas, e suas facções, que por meio de tribunais do crime, violência e intimidações, estão fazendo justiça com suas próprias mãos, assim como, impondo seus negócios ilícitos ou não, a toda essa população. E muita, mas muita fake news.
Em tempos recentes, quem chegava nas periferias das nossas cidades eram os sindicatos dos trabalhadores/as, as associações de moradores, os movimentos sociais, como movimento negro, de mulheres, a teologia da libertação, partidos políticos defensores dos interesses da população e um sem número de militantes dispostos a organizar a sociedade na defesa dos seus direitos.
Eram tempos, onde a esperança vencia o medo.
Ao que tudo indica, parece que os democratas brasileiros perderam o rumo, a bussola e o caminho. Está todo mundo atarantado, confundindo conscientização com lacração, enquanto a extrema direita cresce a olhos vistos, apesar de todos os números e dados positivos que o atual Governo tem apresentado.
O que fazer? Como fazer? São perguntas que não querem calar.
Alguns culpam a comunicação errática do governo, como a grande vilã, outros o intenso bombardeio das fake news, realizado pela extrema direita e outros tantos consideram que a pauta identitária é o calcanhar de aquiles do campo progrestas.
Mas, o fato concreto é que a esquerda e os setores progressistas da sociedade brasileira, estão perdendo a batalha ideológica para a extrema direita e mais grave ainda, não sabem como dialogar com a periferia, (leia-se o povão) para fazer esse enfrentamento
Talvez a explicação esteja na afirmação feita pelo Presidente do IPEA, Márcio Porchmann de que “há uma ausência de disputa do futuro” no Brasil atual. Em bom português, não há um projeto político no campo da progressista que faça o nosso povo sonhar.
E para sonhar é preciso que tenhamos coragem.
Coragem para assumir nossos erros, coragem para refazer nossa agenda política, coragem para admitir que a pauta mais importante do momento é assegurar a vigência plena da democracia, e que para tanto, consolidar uma frente democrática, com propostas concretas para um Brasil futuro é fundamental.
Toca a zabumba que a terra é nossa!