Pesquisa Realizada pelo Insper e pela Fundação Telefônica Mostra Profundas Desigualdades no Ensino Brasileiro entre Negros e Brancos
O Núcleo de Estudos Raciais do Insper (Neri) e a Fundação Telefônica Vivo acabam de lançar a pesquisa “Tecnologia e Desigualdades Raciais no Brasil”, que teve como objetivo investigar desigualdades raciais no acesso à tecnologia e seus desdobramentos em diferentes etapas da trajetória escolar, desde o ensino básico até o ensino superior.
O estudo mostra que a exposição à tecnologia está positivamente associada com a melhora na aprendizagem e inserção no mercado de trabalho.
Na educação básica, a pesquisa mostra que disparidades estão presentes desde o início da trajetória escolar dos estudantes.
Os resultados indicam desigualdades raciais relevantes no acesso de alunos a tecnologias, considerando a presença de infraestrutura adequada nas escolas e o seu uso pelos professores para fins pedagógicos, mensuradas a partir de dados do Censo Escolar e do Saeb. A pesquisa mostra, por exemplo, um aumento de 10 pontos no índice de exposição à tecnologia no 5º ano do ensino fundamental; está associado a uma nota 18,5 pontos maior em matemática (em uma escala de 0 a 500).
No recorte racial, alunos negros do mesmo ano obtêm, em média, 14,5 pontos a menos em matemática, na média Brasil, quando comparados com alunos brancos com o mesmo nível de exposição à tecnologia. Esse diferencial é de 4 pontos quando são comparados alunos das mesmas regiões e com as mesmas condições socioeconômicas. Esses fatores mostram que a diferença de desempenho entre negros e brancos está fortemente relacionada a fatores sociais e regionais, que são reflexo de disparidades raciais históricas.
No ensino superior, a pesquisa mostra que estudantes negros estão mais presentes nas universidades, mas ainda são sub-representados, principalmente nas carreiras STEM (sigla em inglês para os cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
Historicamente, a participação dos negros tem sido inferior à dos brancos na universidade, no entanto houve uma mudança nesse panorama. Em 2009, os negros eram apenas 34% dos matriculados no ensino superior, o que evidencia a pouca representação dos negros nesse nível de ensino. Contudo, ao longo dos anos, houve um aumento notável na participação dos negros. Em 2022, a sua proporção entre matriculados subiu para 46%, um crescimento de 12 pontos percentuais.
Essa tendência sugere uma mudança positiva na composição racial dos estudantes do ensino superior, indicando um progresso em direção à equidade racial na representação dos estudantes. Os dois grupos raciais têm participação próxima de 50% no final do período de observação, o que se aproxima da distribuição racial da população total do país.
Esse aumento na participação de negros pode estar associado a uma série de fatores que ocorreram no período, como políticas de reserva de vagas, expansão do acesso ao ensino médio e políticas de financiamento estudantil e bolsas de estudo em universidades privadas. Cumpre ressaltar que cerca de 90% do avanço foi impulsionado pelo aumento da participação dos negros em instituições privadas.
Os resultados revelam aumento na proporção de negros em cursos de todas as áreas do conhecimento e em todos os tipos de universidade. No entanto, negros ainda estão sub-representados na maioria dos cursos, em especial nos cursos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), ou seja, quando comparamos à população demográfica, essa sub-representação é ainda mais significativa. Nesses cursos especificamente, os negros representam 42% do total de matriculados. Já nos cursos não STEM, essa participação é de 47%.
Em outras palavras, embora a participação dos negros esteja crescendo nas duas áreas, a disparidade entre negros e brancos é maior nos cursos STEM, atingindo 13,7 p.p., do que em cursos não STEM, de 3.9 p.p. Essa diferença é relevante porque o acesso desigual a cursos de maior prestígio e melhores perspectivas de emprego pode limitar oportunidades profissionais e contribuir para as disparidades salariais observadas posteriormente na carreira.