Ação afirmativa é fundamental para ampliar equidade nos cargos de liderança
Nos últimos 25 anos, a participação de negros, pardos e indígenas em cargos de liderança no governo federal aumentou significativamente. Em 1999, no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eles representavam 20% dessas posições. Agora, em 2024, esse número subiu para 39%, segundo o estudo “Lideranças Negras no Estado Brasileiro”, divulgado nesta sexta-feira (28 de março de 2025).
O levantamento, conduzido pelo Afro-Cebrap com apoio da Fundação Lemann e da Imaginable Futures, analisou a presença de não-brancos em cargos de chefia, que vão desde coordenações até ministérios de Estado. Os dados mostram que essa mudança foi gradual, com alguns períodos de crescimento mais acelerado.
Três períodos se destacaram nesse avanço: o primeiro governo de Lula (PT), a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e agora, no terceiro mandato de Lula, quando o percentual de negros, pardos e indígenas em cargos de liderança cresceu 4 pontos percentuais. Por outro lado, o menor crescimento ocorreu no segundo governo de Lula, com apenas 1 ponto percentual de avanço.
Apesar desse progresso, os homens negros tiveram um crescimento mais expressivo do que as mulheres negras. Enquanto a participação masculina subiu 11,6 pontos percentuais, a feminina cresceu 7,5 pontos.
O estudo revela que, embora a presença de não-brancos tenha aumentado, a distribuição entre os ministérios não é uniforme. Em órgãos historicamente considerados “de elite”, como o Itamaraty e o Ministério da Fazenda, homens brancos e amarelos ainda são maioria, ocupando 51% e 50% das posições de chefia, respectivamente. Já as mulheres negras, pardas e indígenas representam apenas 7% no Itamaraty e 9% na Fazenda.
Por outro lado, ministérios voltados a políticas sociais têm maior diversidade. O Ministério dos Povos Indígenas é o mais representativo, com 61% de seus cargos de liderança ocupados por pretos, pardos e indígenas. Outros exemplos são o Ministério do Esporte (43%) e os ministérios da Cultura e Educação (41%).
Os pesquisadores do Afro-Cebrap identificaram um padrão entre os líderes negros e indígenas no Executivo: a maioria tem ensino superior e pós-graduação, mas, diferentemente de muitos colegas brancos, não vêm de famílias da elite. Flavia Rios, coordenadora do projeto, ressalta essa questão:
“Ao analisarmos os perfis, percebemos que poucos tinham uma linhagem de elite. A maioria veio de famílias humildes. Como me disse um dos entrevistados: ‘Sou embaixador, mas meu pai era pedreiro’.”
Essa constatação reforça a importância de medidas que garantam oportunidades iguais, independentemente da origem socioeconômica.
Apesar do avanço registrado nas últimas décadas, especialistas alertam que ainda há um longo caminho a percorrer. Alessandra Benedito, vice-presidente de Equidade Racial da Fundação Lemann, destaca que o crescimento da presença de negros em cargos de liderança é um marco, mas não suficiente:
“Os dados mostram que houve progresso, mas ainda há muito a ser feito para garantir equidade racial e de gênero no Brasil.”
O estudo aponta que pensar em ações estruturais — como programas de formação, acesso a redes de contatos e políticas de inclusão — é essencial para ampliar a presença de negros e indígenas em cargos estratégicos no governo federal.