Revista Raça Brasil

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Pobreza, raça e mudanças climáticas.

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

Nesse mês de novembro (6 à 21), o Brasil sediará o evento mais importante do mundo sobre as mudanças climáticas:  a cúpula dos Chefes de Estado, da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, conhecida como a Conferência das Partes – COP30.

A Cúpula, acontecerá na cidade de Belém, capital do Estado do Pará, no norte do país, onde também se localiza a maior floresta tropical do mundo – a floresta Amazônica e terá a presença de mais de 50 Chefes de Estados, como da Alemanha, França, Reino Unido, Países Baixos, Noruega, Colômbia, Cabo Verde, etc.

A Conferência contará com a presença de mais de 140 países e aproximadamente 50 mil pessoas de todas as partes do mundo, preocupadas com os eventos extremos (enchentes, furacões, tempestades e mortes para todo lado) que estão acontecendo no planeta.

Isso tem tudo a ver com pretos, pobres e periféricos de todo o mundo.

Até porque é lá onde a maioria dessas populações vivem, ou melhor sobrevivem. Por isso mesmo, os principais objetivos da COP30 são: redução das emissões de gases de efeito estufa, promoção do financiamento climático para países em desenvolvimento (como o Brasil), e apoio para a adaptação às mudanças climáticas.

Exemplo dessa tragédia climática, é o que está ocorrendo na África, que apesar de ser a região do planeta que menos contribui para essas mudanças, tem sido aquele que mais tem sofrido suas consequências, com aquecimento mais rápido que a média global, inundações e secas severas.

Essas mudanças climáticas tem provocado milhares de mortos e milhões de desabrigados, além da fome, sede e doenças de todas as ordens no continente africano.

No Brasil não é diferente. As populações mais atingidas pelas mudanças climáticas são as indígenas e negras, por conta das suas vulnerabilidades históricas no campo social, econômico e ambiental.

É aquilo que chamamos de racismo ambiental.

Onde os desabamentos, inundações, ausência de saneamento, calor extremo, moradias precárias, secas (em particular no nordeste), fazem dessas populações as grandes vítimas.

Nesse sentido, é importante dizer, que furacões, tempestades, incêndios, terremotos, secas e tragédias climáticas que tem ocorrido com frequência e intensidade nunca vista, não é obra de Deus, mas sim da ganancia e da irresponsabilidade humana, particularmente daqueles que só pensam em lucrar.

Isso também é chamado de capitalismo selvagem.

O Censo de 2022 do IBGE informa que as comunidades negras e indígenas tem sido aquelas que enfrentam a maior exposição a poluentes e riscos ambientais, por conta da falta de saneamento básico, das moradias precárias, assim como pela localização em aterros e terrenos sem infraestrutura básica, como são as favelas.

A ONU Mulheres, por outro lado afirma: “a mudança climática tende a empurrar 158 milhões de mulheres e meninas para a pobreza até 2050, e 236 milhões sofrerão maior insegurança alimentar – com recorte de gênero e raça acentuado”. Ou seja, mulheres, especialmente negras, serão as mais impactadas pela crise climática.

E o mais curioso é que as maiores vítimas dos desastres climáticos, também tem sido as grandes protagonistas na luta por soluções climáticas justas e corretas.

E mais correto ainda seria fazer dessa luta, uma luta de caráter interseccional, onde a raça, o gênero e a classe social fossem fatores preponderantes na hora das escolhas das soluções.

Portanto, as mudanças climáticas, não é algo inevitável. Não é coisa de Deus, como muitos afirmam.  É fruto da presença humana no planeta.

Daí que, é possível sim, reduzir os desastres, cuidar do meio ambiente e promover o desenvolvimento humano de forma sustentável. Para tanto, basta que os nossos governantes tratem o planeta terra com o cuidado e a seriedade que ele merece.

Afinal, essa é a nossa única casa.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

 

Essa publicação é fruto de uma parceria especial entre a Revista Raça Brasil e o Fórum Brasil Diverso, evento realizado pela Revista Raça Brasil nos dias 10 e 11 de novembro, que celebra a diversidade, a cultura e a potência da música negra brasileira. Não perca a oportunidade de participar desse encontro transformador — inscreva-se já www.forumbrasildiverso.org

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