POESIA DE AGOSTINHO NETO
Confira o poema “Do povo buscamos a força” do poeta e líder libertário angolano Agostinho Neto
FOTO: Acervo MPLA/Divulgação | Adaptação web: David Pereira]
Poema “Do povo buscamos a força”:
“Não basta que seja pura e justa
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós.
Dos que vieram
e conosco e se aliaram
muitos traziam sombras no olhar
e intenção estranhas.
Para alguns deles a razão da luta
era só ódio: um ódio antigo
centrado e surdo
como uma lança.
Pra alguns outros era uma bolsa
vazia (queriam enchê-la)
queriam enchê-la com coisas sujas
inconfessáveis.
Outros viemos.
Lutar para nós é ver aquilo
que o povo quer
realizado.
É ter a terra onde nascemos.
É sermos livres para trabalhar.
É ter para nós o que criamos.
Lutar para nós é um destino.
É uma ponte entre a descrença
e a certeza de um mundo novo.
Na mesma barca nos encontramos.
Todos concordam, vamos lutar!
Lutar para que?
Para dar vazão ao ódio antigo?
Ou para ganharmos a liberdade
e ter para nós o que criamos?
Na mesma barca nos encontramos
o que há de ser do timoneiro?
Ah! As tramas que eles tecem!
Ah! As lutas que travamos!
Mantivemo-nos firmes: no povo
buscamos a força
e a razão.
Inexoravelmente,
como uma onda que ninguém trava
vencemos.
O povo tomou a direção da barca.
Mas a lição foi aprendida:
Não basta que seja pura e justa
a nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
existam dentro de nós.”
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