Por ligação, bombeiro ajuda pai a fazer parto da própria filha em Sertãozinho, SP; ouça
O metalúrgico Cauan Costa foi orientado pelo soldado Élcio e conseguiu ajudar a mulher, Nívea, a trazer a pequena Jade Victória ao mundo.
A gravação do atendimento por telefone prestado por um bombeiro de Bauru (SP) a um metalúrgico em Sertãozinho (SP) revela as instruções dadas pelo militar para que o pai conseguisse fazer o parto da própria filha. Segundo o metalúrgico Cauan Costa, a tranquilidade do soldado Élcio foi essencial para que ele pudesse ajudar a mulher, Nívea Gonçalves, no nascimento da menina.
O parto aconteceu na noite de terça-feira (2), na casa da família em Sertãozinho. A gestação de Nívea estava na 38ª semana, e geralmente os partos ocorrem na 40ª semana.
Nívea e o marido tinham acabado de voltar da casa da mãe dela, quando ela começou a sentir as contrações. Cauan não acreditou no anúncio da mulher de que a criança estava chegando. Ele só se deu conta de que era para valer quando ela começou a gritar.
“Depois dos gritos, não teve nem como não acreditar. Eu peguei o telefone para ligar, mas estava tão desesperado que não conseguia ligar para o Samu. Aí eu consegui ligar para o bombeiro”, diz.
Ao discar 193, a ligação caiu na Central dos Bombeiros, que fica em Bauru. O soldado Élcio atendeu e deu início ao acompanhamento (ouça abaixo).
Soldado Élcio: Bombeiros, emergência!
Cauan: Minha esposa está tendo uma contração muito forte. Eu precisava de um Samu para levar ela na UPA.
Soldado Élcio: Tá. Quantos meses de gestação ela está?
Cauan: Ela está pra ter já.
Soldado Élcio: Você tá perto dela aí?
Cauan: Estou!
Soldado Élcio: Já tá coroando?
Cauan: Meu Deus! Tá saindo, moço, e agora?
Soldado Élcio: Não, presta atenção aqui. Calma aqui.
Cauan: Sim.
Soldado Élcio: Fala pra ela acalmar e coloca o telefone no viva-voz.
Cauan: Sim.
Soldado Élcio: Tá aparecendo alguma parte da criança aí?
Cauan: Tá saindo tudo, tá sangrando.
Soldado Élcio: Fica tranquilo, fala para ela fazer força.
Cauan: Faz força, amor. Faz força aqui então.
Soldado Élcio: Pega uma toalha pra amparar a criança.
Cauan: Tá. Tá saindo.
Soldado Élcio: É a criança que está chorando?
Cauan: É.
Soldado Élcio: Pega a toalha criança. Já enrolou a criança?
Cauan: Aham, já enrolou.
Soldado Élcio: Embala bem ela, pra manter ela aquecida. Pra manter aquecida. Não puxa o cordão umbilical, não puxa o cordão.
Cauan: Tá, não cortou.
Dever cumprido
Capitão do Corpo de Bombeiros, Victor Tozi afirma que o bombeiro, mesmo à distância, conseguiu fazer o trabalho com muito profissionalismo.
“Em que pese o pai estar bem nervoso e é natural que isso aconteça, o bombeiro soube orientar corretamente o pai para que ele recepcionasse a criança. No ambiente de trabalho do nosso centro de operações, é um momento de muita alegria. Tanto que nós até já solicitamos uma homenagem, uma valorização profissional pela atitude dele”, afirma.
Cauan seguiu todas as orientações, inclusive instruir Nívea sobre a melhor posição para o parto e os pedidos para ela fazer força para empurrar a bebê para fora. Jade Victória chegou ao mundo com 47 centímetros e pesando 2,7 quilos.
Enquanto o pai era pura tensão, Nívea diz que se sentiu tranquila ao ser auxiliada apenas pelo marido. “Eu confiei no meu marido, eu queria que ela saísse só”.
Da própria central, o bombeiro que auxiliou o parto acionou uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Mãe e filha foram levadas à Santa Casa. O bebê ficou sob cuidados médicos até o fim da semana passada e já recebeu alta.
Alívio
Para o pai, superado o susto, ficou a ansiedade de contar para a filha no futuro como foi o nascimento dela.
“[Vou falar] filha, sabia que o papai que fez seu trabalho de parto? Papai tirou você.”
Já a mãe é só carinho com a menina. O nome ela faz questão de explicar. “Jade porque ela é preciosa; Victória porque ela é guerreira”, explica a mãe orgulhosa.