Revista Raça Brasil

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Por que Xamã só vive bandidos? O padrão que a teledramaturgia insiste em repetir

Xamã, 36 anos, vem construindo presença na teledramaturgia brasileira com força, intensidade e carisma. Mas, à medida que novos trabalhos chegam, um padrão começa a saltar aos olhos: quase sempre, ele aparece interpretando homens envolvidos com o crime, o submundo e a violência.

E isso nos convida a uma reflexão importante.

Em duas estreias recentes, o ator vive mais uma vez personagens sombrios: Búfalo, bicheiro influente da série Os Donos do Jogo, na Netflix; e Bagdá, chefe do tráfico em Três Graças, novela das 21h da Globo. Ambos seguem a mesma linha — a do homem perigoso, temido, envolvido com poder, armas e dominação.

Esse caminho não é novo. Em Renascer (2024), seu primeiro papel de destaque, Xamã interpretou Damião, um matador de aluguel que, mesmo mudando de lado, continuava preso ao universo da violência. Na segunda temporada de Justiça, novamente surge como Naldinho, integrante de uma facção criminosa. Em todas essas obras, ele retorna ao mesmo ponto: o estereótipo do bandido, do homem que vive e morre pela lógica do crime.

A repetição desses papéis mostra que Xamã tem domínio sobre personagens intensos, mas também revela algo mais profundo: a indústria audiovisual ainda insiste em colocar determinados corpos em certos lugares.

E, quase sempre, homens negros são chamados a serem bandidos, violentos, perigosos — raras vezes heróis, pais amorosos, protagonistas de comédia, românticos ou figuras que exploram nuances completamente diferentes.

Essa repetição não fala apenas de Xamã. Fala sobre o olhar da teledramaturgia. Fala sobre o imaginário coletivo que ainda não aprendeu a enxergar atores negros como multifacetados.

Fala sobre como o mercado, mesmo sem perceber, reforça uma narrativa que limita possibilidades.

Quais histórias estamos repetindo? Quando um ator talentoso aparece sempre no mesmo tipo de personagem, reforçamos uma visão única e rasa da vida de pessoas negras.

Por que ainda existe tanta resistência em oferecer novos papéis? Não falta capacidade, força dramática ou presença. Falta oportunidade para explorar outras camadas.

Que impacto isso tem no público? A ficção influencia o olhar social. Quando repetimos estereótipos, alimentamos preconceitos, naturalizamos narrativas e reforçamos moldes que deveriam ser discutidos.

O que ganhamos ao romper esse ciclo? Histórias mais ricas, personagens mais profundos e um audiovisual mais honesto com a diversidade da vida real.

Xamã já mostrou que pode entregar intensidade, vulnerabilidade, carisma e presença.

Agora, fica o convite,  não para ele, mas para a indústria: permitir que esse talento transborde para além da sombra, e que novos caminhos sejam escritos, vividos e representados.

É tempo de ampliar o olhar.

É tempo de romper o padrão.

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