Porta-bandeira da Portela denuncia racismo no Aeroporto de Brasília

Danielle Nascimento, filha de Dona Vilma, porta-bandeira da Velha Guarda da Portela, denunciou episódio racista ocorrido em loja do aeroporto um dia após homenagem no dia da Consciência Negra

Danielle Nascimento, filha de Dona Vilma, denunciou, nesta quinta-feira (23/11), o episódio de racismo sofrido no Aeroporto Internacional de Brasília ocorrido um dia após a porta-bandeira ser homenageada no dia da Consciência Negra (20/11) na Câmara dos Deputados.

Nesta quinta-feira (23/11), a filha da maior porta-bandeira da história da Portela, Dona Vilma Nascimento, denunciou, por meio de um vídeo publicado nas redes sociais, como uma fiscal realizou abordagem racista no Duty Free Dufry Shop, loja localizada no Aeroporto de Brasília. 

Dona Vilma estava na cidade para ser homenageada na Câmara dos Deputados, um dia antes do ocorrido, no dia da Consciência Negra (20/11). Com um painel inteiramente dedicado a ela, Vilma abriu a exposição O pensamento negro no Brasil.

Nas redes sociais, a filha de Dona Vilma, Danielle Nascimento, denunciou o episódio que ocorreu na terça-feira (21/11) e relatou que questionou se os seguranças estavam acusando ela e a mãe por conta de sua cor. “Foi uma humilhação que nem eu, nem a minha mãe imaginávamos passar nessa vida. Estamos tristes e traumatizadas até agora. Foi um absurdo! Cheguei a perguntar se ela estava fazendo isso conosco por causa da nossa cor…”, ressaltou Danielle Nascimento.

Segundo Danielle, as duas realizaram compras na loja e depois, ao passarem mais uma vez em frente à porta, foram abordadas por uma fiscal que acusou injustamente sua mãe de roubo. A fiscal alegou que Dona Vilma tinha pego produtos da loja sem pagar. A segurança ordenou que Vilma abrisse a bolsa para ser revistada. “Eu fui comprar chocolates para meu marido e meu filho no Duty Free do Aeroporto de Brasília. Comprei chocolates, paguei e quando estávamos passando novamente pela porta da loja, a fiscal Daniela me abordou dizendo que eu peguei o produto da loja sem pagar e pediu para acompanhá-la. No meio do caminho, ela recebeu informação pelo rádio de que era para revistar a bolsa da minha mãe” relatou a filha da porta-bandeira.

Em vídeo, Vilma diz que apenas abriria a bolsa na presença da polícia, que foi solicitada inúmeras vezes pelas vítimas. Danielle enfatiza que insistiu para a mãe fazer o que estava sendo solicitado devido à proximidade ao horário de embarque do voo. “Eu fazia perguntas, a fiscal não respondia… pedia para chamar a polícia, polícia não apareceu… tivemos que ir embora para não perder o nosso embarque” contou Danielle.

O caso ainda não foi registrado na polícia, mas a família pretende acionar a Justiça. A empresa Duty Free Dufry se pronunciou em comunicado no Instagram e pediu desculpas pelo ocorrido. “A abordagem feita pela fiscal de segurança da loja está absolutamente fora do nosso padrão”, diz a nota. “Em razão da falha nos procedimentos, a profissional foi afastada de suas funções. Este tipo de abordagem não reflete as políticas e valores da empresa.”

Repercussão

Paulinho da Viola, membro da Velha Guarda da Portela e voz importante dentro da escola de samba, prestou solidariedade a Vilma, conhecida como Cisne da Passarela, e lamentou o ocorrido. “Vilma Nascimento, eterna Porta-bandeira da Portela, foi vítima de um ato inaceitável numa loja do aeroporto de Brasília. Foi obrigada a abrir sua bolsa na frente de todos para provar que não havia furtado nenhum produto. Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa cena lamentável, onde Vilma, constrangida, mostra seus pertences e se explica para uma funcionária. Apesar de todos os esforços que temos feito para combater esse preconceito, ele acontece diariamente toda vez que uma pessoa é agredida, humilhada, constrangida e ferida dessa maneira. Eu também me sinto ferido. Sinto muito, querida Vilma, sinto mesmo. Você é muito maior que tudo isso”.

Deputados também prestaram solidariedade nas redes sociais à histórica baluarte. Erika Kokay, deputada do Distrito Federal pelo PT-DF, se solidarizou com Dona Vilma. “Toda nossa solidariedade à Vilma Nascimento, de 85 anos, baluarte da Escola de Samba Portela, que sofreu racismo em uma loja no aeroporto de Brasília. Vilma veio à cidade receber uma homenagem referente ao Dia Da Consciência Negra. Seguimos lutando para reforçar todo e qualquer mecanismo necessário para repreender atos racistas. Basta!”, enfatizou Erika.

A deputada federal Maria do Rosário, ex-ministra de Direitos Humanos do Brasil, prestou solidariedade à baluarte: “Novo caso de racismo, desta vez com Dona Vilma Nascimento, de 85 anos, baluarte da Portela, com longa trajetória na cultura do nosso país, que foi covardemente acusada de furto no aeroporto de Brasília. Meu repúdio ao ocorrido e que os envolvidos sejam responsabilizados. Toda minha solidariedade Dona Vilma!”.

Candidato à presidência do Brasil em 2018, Guilherme Boulos também se solidarizou e enfatizou que deseja que a situação seja apurada. “Minha solidariedade a Dona Vilma Nascimento, uma gigante representante da cultura negra e, infelizmente, mais uma vítima do racismo no Brasil. Quando voltava de uma cerimônia em homenagem ao Dia da Consciência Negra, Dona Vilma foi acusada injustamente de roubo e envergonhada publicamente em uma loja do Aeroporto de Brasília. Que a situação seja apurada com a seriedade que merece!”.

Evento no Plenário

Dona Vilma Nascimento, de 85 anos, esteve na solenidade de celebração do Dia da Consciência Negra, na última segunda-feira (20/11), na Câmara dos Deputados. Estava feliz, com sua vestimenta de porta-bandeira, missão que a consagrou por quinze anos na Portela, escola fundada pelo seu tio, Paulo da Portela.

Sua bandeira trazia escrito “pensamento negro”, bem no centro, e cercado de nomes que são referências da luta contra o racismo.

Sentada no fundo do plenário, dona Vilma aguardava o momento de mostrar sua arte no plenário. Deputados da bancada negra e convidados se alternavam nos discursos. Pacientemente, ela aguardava, ao lado da filha, Daniela Nascimento, neta de Paulo.

Foi improvisada uma bateria, com três integrantes, músicos de Brasília mesmo. Daniela queria que entoassem o samba da Portela de 2017 — Quem nunca sentiu o corpo arrepiar ao ver esse rio passar, é o enredo —, mas ninguém do grupo conhecia nem a letra e nem a melodia. Não teve, então, samba cantado, só tocado.

Fim dos discursos, o deputado Vicentinho (PT-SP), que presidiu a sessão solene, a anunciou e a chamou para o centro do plenário. Foi ela, feliz, deslumbrar os presentes, de mãos dadas com Daniela, que fez o papel do mestre sala. Aplaudidas.

Encerrada essa fase, dona Vilma arrastou um grupo de pessoas, como uma ala de escola, também improvisada, saindo do plenário, passando pelo Salão Verde e entrando no corredor principal da casa, onde está a exposição “Pensamento negro no Brasil: uma conexão ancestral”. Esse corredor tem o nome Tereza de Benguela, uma escrava que liderou um quilombo no Mato Grosso.

Dona Vilma, com seu cortejo, seguiu para o local onde seu nome reluz como uma das personalidades negras homenageadas na exposição: “Vilma Nascimento, o cisne da passarela”. Está ao lado de nome do direito, da saúde, das ciências exatas, da cultura. Também estão ali o advogado Luiz Gama, o médico Juliano Moreira, a escritora Maria Firmina dos Reis e Conceição Evaristo e muitos outros.

Em frente ao seu nome, sambou, tirou fotos, fez vídeos. O texto de 14 linhas de sua biografia explicava que o título de “cisne da passarela é derivado da elegância de seu bailado. Foi a única porta-bandeira a ganhar três vezes consecutivas o Estandarte de Ouro.

“Suas inovações até hoje são fundamentais para a leveza e a beleza da arte do seu bailar: criou o talabarte, a anágua armada e a saia plumada. Sua influência foi decisiva para que o quesito mestre-sala e porta-bandeira fosse incluído na pontuação das escola

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