Prêmio Jabuti pergunta sobre raça de autores

Escritores discordam sobre relevância da coleta da informação, que acontece desde o ano passado, para troféu literário

O prêmio Jabuti, o mais importante entre os troféus anuais que consagram livros brasileiros, foi jogado ao centro de um debate sobre a validade de perguntar a raça dos autores e autoras no processo de inscrição.

A discussão foi disparada por um tuíte do escritor Sérgio Rodrigues, colunista deste jornal, que afirma que a postagem “traduziu o espanto” que o tomou quando ele soube da informação.

A Câmara Brasileira do Livro, responsável por organizar o Jabuti, afirma que coleta a informação sobre raça desde o ano passado, acrescentando que “utiliza a metodologia do IBGE para apontar as sugestões de resposta sobre gênero e raça e o preenchimento desses campos é facultativo”.

“O objetivo de ter um cadastro mais detalhado é mapear o perfil dos inscritos para implementar possíveis ações que promovam cada vez mais a diversidade do mais importante prêmio do livro brasileiro. As informações coletadas no formulário de inscrição têm caráter sigiloso e estatístico”, completa a instituição.

“Não me parece condizente com a proposta de um prêmio”, afirma Rodrigues por telefone. “Imagino que haja outras instâncias para levantar essa informação, que realmente tem valor para elaborar política pública.”

“Um prêmio por definição deve ser focado no mérito do texto. Essa é uma informação para a qual um prêmio deveria ser cego. É como se pudesse lançar de saída uma suspeição de sobre a sua isenção, seja para privilegiar ou prejudicar autores pela raça.”

Outras opiniões

O pesquisador Túlio Custódio respondeu, na rede social, que é a favor de coletar a informação “assim como pergunta idade, endereço e telefone”. “Raça é um dado social importante para contexto Brasil. Falar em mérito literário não exclui a importância de coleta (para análises posteriores) do dado.”

A escritora Eliana Alves Cruz, que acaba de publicar o romance “Solitária”, também afirma que a Câmara Brasileira do Livro “está certa em mapear esse dado”. “A ausência desta pergunta básica em diversas áreas do conhecimento tem aprofundado desigualdades sérias no país.”

Rodrigues diz que há outras esferas na cadeia de produção do livro que podem ser mais adequadas em coletar essas informações, afinal “quem se inscreve no Jabuti é todo mundo que publica livro”. “Um prêmio não é formulador de política pública, é um prêmio.”

O Jabuti está com inscrições abertas até dia 26 de maio. A cerimônia, que acontece em novembro e premia livros com até R$ 100 mil, este ano homenageia Sueli Carneiro, uma das principais intelectuais do feminismo negro brasileiro.

Nos últimos anos, aliás, a premiação tem destacado autores negros. Em 2021, Jeferson Tenório venceu como melhor romance por “O Avesso da Pele”, sobre um garoto que perde o pai professor para a violência policial. Em 2020, o ganhador da categoria foi “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, assim como obras de Djamila Ribeiro e Otávio Junior.

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