Revista Raça Brasil

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Quando Preta Gil diz esperança, todas nós ouvimos

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Rachel Quintiliano

Editora do Portal Raça. Jornalista e escritora com quase 30 anos de experiência, tanto na comunicação corporativa quanto da imprensa, especialmente imprensa negra. Autora do livro ‘Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia’. É responsável por planejar os conteúdos do portal, assegurando a linha editorial e estratégia narrativa do grupo RAÇA.

Diagnóstico, medo, força e ancestralidade: a luta de Preta Gil contra o câncer atravessa também as mulheres negras anônimas que enfrentam o adoecer em um país desigual

 

Por: Rachel Quintiliano

 

O Brasil acompanha com carinho e apreensão a luta de Preta Gil contra o câncer. Entre cirurgias complexas e tratamentos intensivos, ela segue em público com coragem, transmitindo uma mensagem poderosa de esperança. Mas para muitas de nós, essa jornada vai além da empatia — ela nos atravessa de forma profunda e íntima.

Passei recentemente por um câncer. Estou em remissão há menos de um ano e, a cada três meses, volto à rotina de exames e monitoramentos. São dias em que me sinto frágil, vulnerável, mesmo com toda a força que tento cultivar. Nesses momentos, embora siga Preta Gil nas redes sociais, às vezes evito saber como ela está. Não por indiferença, mas porque sua luta me machuca. É como se ela tocasse uma ferida ainda aberta — um espelho de medos que ainda habita em mim, e da compaixão que sinto por tantas outras mulheres enfrentando o mesmo desafio.

Sou especialista em comunicação e saúde, e no início dos anos 2000 atuei no Programa de Combate ao Racismo Institucional. Ali, discutimos a urgência de uma política pública de saúde integral para a população negra e os impactos do racismo no nosso adoecer e morrer. Isso me conectou com muitos dados, inclusive de que, mulheres negras com câncer têm mais chances de morrer. Assim como morremos mais durante a pandemia de Covid-19.

E é inevitável pensar: mesmo sendo uma mulher famosa, filha de Gilberto Gil e com acesso a cuidados de ponta, Preta continua sendo uma mulher negra em tratamento — e isso importa.

“Eu sou preta, gorda e bi”, disse Preta Gil em um show, logo após a primeira etapa de tratamento contra o câncer. 

Recentemente, ela anunciou que buscaria nos Estados Unidos uma nova chance, um novo tratamento. Ela poderia ter dito que estava fugindo, desistindo ou cansada. Mas disse que estava indo buscar esperança. Aquilo me tocou fundo. Porque é disso que se trata: não é sobre desistir — é sobre viver, sobre seguir apesar das estatísticas, das dores e dos silêncios. A luta de Preta Gil é nossa também. E seu grito por esperança ecoa em todas nós.

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