Pretos e Pretas, também são de direita!

Zulu Araújo

Semana passada, publiquei um artigo aqui na Revista Raça, “Jojo Todynho de direita, me conte uma novidade” onde tratava do pseudo escândalo causado no mundo das subcelebridades, com a notícia de que Jojo Todynho, ícone da comunidade LGBTQI+, havia se declarado uma mulher preta e de direita.
Com a reação da Deputada Federal do PSol, Érika Hilton, acusando a influencer de direita, a celeuma foi instalada e muita gente comentou no Instagram da Revista que poderia estar havendo uma patrulha ideológica no tratamento do tema.
Por isso mesmo, volto ao assunto, para afirmar que é preciso tratar desse fenômeno com a seriedade que ele merece. O fato concreto é que, hoje, no mundo das celebridades (influencers, coachs e coisas que tais) e em particular entre pessoas da comunidade negra, esse fenômeno precisa ser observado com a devida atenção – o encantamento que essas celebridades possuem pelas teses da extrema direita.
Não que isso seja uma novidade, afinal, o movimento negro brasileiro, por exemplo, convive com essa realidade desde os anos 30 do século passado, quando parte das lideranças da Frente Negra Brasileira (movimento dos mais importantes no combate ao racismo no Brasil), aderiu à Frente Integralista Brasileira, (movimento fascista brasileiro, ultranacionalista, anticomunista, conservador e de extrema direita), liderado por Plínio Salgado.
Essa adesão provocou um racha sem precedentes na Frente Negra, gerando uma forte dissidência que criou a Frente Negra Socialista Brasileira, vindo inclusive a pegar em armas na década de 30 para combater o governo de Getúlio Vargas. Isso porque, o fascismo, a extrema e o anticomunismo, até hoje, nada tem a ofertar a luta de combate ao racismo, a homofobia ou a misoginia. Muito pelo contrário, eles são os estimuladores do cometimento desses crimes, levando a exclusão e a morte muitas das suas vítimas.
O curioso é que as teses da extrema direita afirmam, sem pudores, que a luta contra o racismo é mi, mi, mi, apoiam as milícias que tem como alvo predileto a juventude negra, além do machismo sem limites que estimula a violência contra as mulheres e o feminicidio.
O que chama a atenção, quase cem anos depois, é que a extrema direita brasileira, em que pese os esforços de mais de 40 anos da esquerda, que lidera inúmeras entidades negras país afora, continua conquistando adeptos importantes para suas fileiras e pondo em xeque a luta de combate ao racismo no país. E isso não deixa de ser integrante.
Parece até um caso de masoquismo coletivo.

E não apenas Jojo Todynho está encantada com o discurso da extrema-direita e anunciando entrar para a política em 2026, apoiando os bolsonaristas, além de apoiar o candidato das milícias a Prefeitura do Rio de Janeiro. Inúmeros astros negros, famosos, como os jogadores de futebol, Neymar Junior, Robinho, Felipe Melo, Ronaldinho Gaúcho e o Wallace do voley, que chegou a sugerir em redes sociais que o Presidente Lula fosse assassinado a tiros, são bolsonaristas ferrenhos e não escondem o seu desprezo pela luta antirracista.
No mundo da política, temos figuras como o Vereador Fernando Holiday de São Paulo, o Deputado Federal Hélio Bolsonaro, o mais votado do Rio de Janeiro, Sérgio Camargo, ex presidente da Fundação Palmares, que se candidatou na última eleição, mas perdeu, etc.
Enfim, todos/as aqueles/as que defendem uma sociedade justa, que respeite a diversidade e que promova a igualdade social e racial deve estar atento a este fenômeno para que não cometamos o erro de promover o retorno da barbárie.


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