Princesa ou guerreira, quem você quer ser?

Que tal ser elegante, batalhadora, combativa,

linda, formosa e o que mais você quiser?

ESTILO

UMA DAS COISAS QUE MAIS ME INCOMODAM É O ESTEREÓTIPO ATRIBUÍDO ÀS MULHERES DE FORMA GERAL, MAS, ESPECIALMENTE ÀS MULHERES NEGRAS. DURANTE TODA A MINHA VIDA, BASICAMENTE OUVI OUTRAS PESSOAS DIZENDO QUE EU ERA UMA MULHER FORTE, UMA GUERREIRA. ISSO ME INCOMODAVA MUITO, ATÉ HOJE INCOMODA E IMAGINO QUE TAMBÉM SEJA DESAGRADÁVEL PARA MUITAS OUTRAS MULHERES.

Enquanto que para as mulheres brancas é atribuído com mais frequência o estereótipo de frágil e de princesa, para as mulheres negras é o de forte e guerreira. Esses dois papéis soam antagônicos. Assim, são conferidas em nossa sociedade as funções de elegante, gentil, formosa, bela e graciosa para as mulheres brancas e de soldadas, gladiadoras, batalhadoras, combatentes e agressivas às negras.

De certa maneira, para as mulheres negras isso é positivo, porque reconhece o papel e a importância de cada uma delas para a manutenção de suas famílias e comunidades, mas, por outro lado, retira a possibilidade de serem enxergadas de forma mais integral e, sobretudo, de serem vistas como mulheres que também precisam de ajuda para vencer as batalhas do dia a dia.

A ideia pobre e preconcebida impacta diretamente no atendimento que as mulheres negras recebem, por exemplo, nos serviços de saúde, na construção de relações afetivas e na autoestima. O ideal de guerreira, infelizmente, faz com que as mulheres negras recebam menos anestesia durante o parto, peregrinem mais de maternidade em maternidade na hora de dar à luz.

Os dados expressos no relatório “A Situação Dos Direitos Humanos das Mulheres Negras no Brasil – Violências e Violações”, produzido pelas organizações de mulheres negras Criola e Geledés, indicam que as mulheres negras são 62% das vítimas de morte maternas no Brasil. Uma morte evitável.

Esse estereótipo também dificulta a construção de relações afetivas duradouras e respeitosas e nutre a solidão da mulher negra, impacto irreparável na autoestima. Faz também com que os cabelos crespos finos e frágeis sejam submetidos a processos químicos muito mais abrasivos. Não são raras as notícias de mulheres que ficaram carecas e sofreram com feridas severas depois de relaxar e alisar o cabelo. As mulheres brancas também alisam seus cabelos, mas raramente ficamos sabendo se elas sofrem com o uso de produtos abrasivos.

Será que os produtos relaxantes para quem tem cabelo naturalmente liso são mais leves? Sempre me faço essa pergunta. Todos esses exemplos são grandes equívocos reforçados pelo racismo e que demonstram que o que deveria fortalecer as mulheres negras, acaba por deixá-las ainda mais vulneráveis. Mas, é possível adotar atitudes no dia a dia, que ajudem a desconstruí-los de forma que a mulher – independente de sua etnia – possa determinar quem ela quer ser nesse grande jogo de cena que é a vida.

Eu, pessoalmente resolvi adotar o papel de “docinho”. Docinho é uma mulher negra, muito, muito forte, guerreira, batalhadora, decidida, linda, que pede ajuda, que adora carinho, que quer e exige ser bem tratada em todos os espaços. Que se cuida, que se arruma, que ama sapato alto, que adora cosméticos e que se preocupa com a aparência sem exageros. Docinho tem uma rotina de beleza que reforça sua identidade e autoestima, por isso, não sai de casa sem filtro solar, ainda que isso implique em misturar filtro e base, porque a maioria das maquiagens que têm tonalidade para pele negra tem baixo nível de proteção solar. Não abre mão do batom vermelho, roxo, vinho e do gloss rosinha. Tem o pente garfo como o seu maior aliado, afinal, um cabelo black power é também um ato de resistência. Sempre que precisa de um profissional de saúde, como dermatologista, ginecologista e terapeuta, dá preferência em se consultar com profissionais negras.

No dia a dia usa roupas clássicas e mistura texturas. Adora roupas com corte ocidental feitas com capulanas (nome que se dá em Moçambique para um tecido de algodão, bastante popular que as mulheres de lá usam como saia, como torço de cabeça e também para carregar suas crianças). Tem sempre uma postura firme, sempre pede por favor. Não tolera machismo e nem racismo. Docinho é guerreira. É princesa. É rainha e tudo ao mesmo tempo.

E você, quem você quer ser?

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