Revista Raça Brasil

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Projeto educacional trás reflexão do por que corpos negros ainda recebem menos cuidado

Imagine estar doente, buscando ajuda, e receber como resposta o silêncio, a pressa ou o descaso. Para muitas pessoas negras, essa não é uma hipótese, é uma realidade constante. E é justamente essa ferida que o curta-metragem “Corpo Negro” escancara: a dor de ser negligenciado no momento em que mais se precisa de cuidado.

Lançado na última terça-feira (1º), no Cinema Estação do Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, o filme retrata a trajetória de um homem negro em busca de atendimento médico, e o quanto a indiferença dos profissionais transforma essa busca em mais sofrimento. A exibição foi seguida de uma roda de conversa que ampliou o debate sobre o racismo estrutural na saúde.

Dirigido por Nany Oliveira, o curta faz parte do projeto Mediversidade, uma iniciativa do Idomed e do Instituto Yduqs, que pretende tornar o ensino médico mais inclusivo e consciente das desigualdades raciais. A proposta não é apenas denunciar, mas também provocar transformação, com ações práticas dentro das instituições de ensino ligadas aos dois grupos, como Estácio, Ibmec, FAMEAC e FAPAN.

O racismo na saúde tem números assustadores.
Mulheres negras têm duas vezes mais chances de receber um diagnóstico tardio de câncer de mama, segundo estudo da UERJ. Pessoas negras são mais hospitalizadas por erros médicos, conforme dados levantados entre 2010 e 2021. E em média, elas recebem diagnósticos de doenças como Alzheimer com anos de atraso. Isso sem falar na mortalidade materna, que é mais que o dobro entre mulheres negras.

O filme também denuncia a ironia cruel: os corpos negros, tão ignorados vivos, são os mais doados para estudos nos cursos de Medicina. E nas salas de aula, a presença de médicos pretos ainda é mínima — só 2,8% dos formados em Medicina se autodeclaram pretos, segundo o Censo 2022.

Mas Corpo Negro não é só denúncia — é também esperança. O projeto Mediversidade propõe medidas concretas, como:
• Cursos de letramento étnico-racial para professores e alunos
• Aumento de vagas afirmativas para docentes
• Reformulação de currículos com foco em diversidade
• Bolsas de estudo integrais para estudantes pretos e pardos
• Uso de manequins negros nas práticas médicas

No fim, a pergunta que o filme deixa ecoar é simples, mas poderosa: que tipo de cuidado estamos oferecendo — e para quem?

“Corpo Negro” nos convida a olhar com mais humanidade. Porque combater o racismo também é uma forma de salvar vidas.

Créditos: Agência Brasil

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