Nem sempre o palco tem cortina, nem sempre a plateia está em poltronas. Às vezes, o palco é o pátio da escola, e o público são meninas e meninos que ainda estão aprendendo sobre o mundo — e sobre si mesmos. É nesse espaço cotidiano que o projeto Arena Viva, do Instituto Burburinho Cultural, decidiu semear algo precioso: consciência, representatividade e pertencimento.
Desde a última segunda-feira (6), o espetáculo A História de Aya tem percorrido escolas públicas de São Paulo com uma proposta simples, mas poderosa — contar a história e a força de mulheres negras brasileiras que moldaram o país, por meio da arte.
Estrelada por Fernanda Dias e dirigida por Vinícius Soares, a peça traz Aya, uma menina negra com coragem para mudar o mundo. Depois que seu planeta é destruído por uma guerra, ela viaja pelo espaço-tempo levando mensagens sobre memória, ancestralidade e comunidade — ensinando, com poesia e magia, que conhecer as próprias raízes é o primeiro passo para transformar o futuro.
O projeto vai além do teatro. Cada apresentação vem acompanhada de rodas de conversa e da entrega de um guia educativo sobre empoderamento feminino e negritude, distribuído para estudantes, bibliotecas e secretarias de Educação.
Para o idealizador Thiago Ramires, levar o espetáculo até as escolas é uma forma de aproximar os jovens de temas que atravessam suas realidades.
“O Arena Viva é mais do que teatro. É um convite para o jovem pensar, se enxergar, se reconhecer. A gente não espera que ele vá até o teatro — a gente leva o teatro até ele”, explica.
Mais do que uma atriz, Fernanda Dias se coloca como ponte entre a história e quem a escuta.
“Integrar o projeto Aya: corpo em cena, voz em escuta é assumir um chamado ancestral. Estar ali é um gesto de afeto e presença. São memórias que reconheço, feridas que nomeio, esperanças que partilho. Cada troca é um semear de consciência”, diz emocionada.
A peça também destaca ícones como Ruth de Souza, Léa Garcia e Zezé Motta, mulheres que abriram caminhos e mostraram que o protagonismo negro não é exceção — é potência.
As apresentações seguem até sexta-feira (10) em escolas da capital, como a EMEF Olívia Irene Bayerlein Silva, na Vila Guilherme, e a E.E. Professora Anilza Pioli, em Vila Brasilândia.
Mais do que encenar, A História de Aya propõe curar ausências e reconstruir imaginários. Levar uma menina negra protagonista ao centro do palco é lembrar a cada aluna — e aluno — que eles também têm voz, história e lugar.