Revista Raça Brasil

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Quando a inteligência artificial não reconhece minha pele

Sabe aquele filtro que não reconhece seu rosto? Ou aquele app que te clareia automaticamente? Não é só uma falha técnica. É reflexo de algo muito mais profundo: o racismo algorítmico, uma forma de preconceito que acontece quando tecnologias criadas para facilitar a vida, na verdade, excluem, invisibilizam e ferem.

O nome pode soar técnico, mas o que ele representa é real e cotidiano: são algoritmos — fórmulas que organizam e entregam o que vemos nas redes — que acabam reproduzindo o racismo presente na sociedade. E isso tem consequências dolorosas, principalmente quando atinge crianças negras em sua fase mais sensível de construção da identidade.

Imagina crescer sendo constantemente ignorada pelas ferramentas que seus colegas usam. Ver seus traços escurecidos, alisados ou até mesmo apagados por um aplicativo que deveria te representar. Aos poucos, isso machuca. Faz parecer que sua imagem “não serve”. Que seu rosto não é digno de aparecer.

Essas microagressões digitais, embora pareçam sutis para quem não vive na pele, são formas silenciosas de violência. Elas não gritam, mas corroem. E vão moldando a autoestima, o pertencimento, o senso de valor.

Os algoritmos não surgem do nada. São criados por pessoas — e, muitas vezes, por equipes sem diversidade, compostas majoritariamente por homens brancos e de classes privilegiadas. Isso influencia diretamente nos dados que alimentam as inteligências artificiais, que, por sua vez, aprendem com o que recebem.

Se a base é desigual, o resultado será também. Se o olhar é limitado, o espelho digital será distorcido. E quem mais sofre com isso são os corpos que já foram historicamente silenciados.

Como podemos mudar isso?

Essa luta não é só sobre tecnologia. É sobre humanidade. É sobre criar um futuro onde todas as crianças possam se ver com dignidade e orgulho — também nas telas.

Educar com consciência: É urgente ensinar desde cedo como funcionam as redes, os filtros, os algoritmos, e como questioná-los.

Diversificar quem cria: A presença de pessoas negras, indígenas e periféricas nas equipes de tecnologia muda tudo. Representatividade não é detalhe: é estrutura.

Cobrar transparência: As empresas precisam assumir suas falhas, revisar seus sistemas e ouvir quem sente na pele os efeitos da exclusão.

Falar, denunciar, transformar: O silêncio só fortalece o erro. Precisamos falar, questionar, refletir, e agir.

O racismo algorítmico é mais uma camada do racismo estrutural — só que agora escondido atrás de códigos e promessas de modernidade. Mas não basta sermos digitais. Precisamos ser justos. E, principalmente, humanos.

Que cada criança negra cresça sabendo: seu rosto não precisa ser corrigido, clareado ou adaptado. Ele é belo como é. E merece ser visto.

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