Revista Raça Brasil

Compartilhe

Quando o fardo é maior que a medalha: a saúde mental de atletas negros

Eles correm, pulam, marcam, treinam. Inspiram. Mas o que acontece com atletas negros quando as luzes se apagam, a torcida vai embora e o uniforme é guardado?

Falar sobre saúde mental no esporte deixou de ser tabu. E quando falamos de atletas negros, é impossível ignorar o peso extra que muitos carregam — não o do corpo, mas o da alma. A pressão por resultados, os ataques racistas, a solidão de ser o “único” em certos espaços. Tudo isso se acumula em silêncios que machucam.

Foi preciso que a maior ginasta do mundo, Simone Biles, pausasse sua trajetória olímpica para o mundo entender que saúde emocional é tão urgente quanto performance. A partir daí, outros atletas se sentiram mais à vontade para dizer: “eu também não estou bem”.

Mas, para muitos profissionais negros, esse passo ainda exige coragem. Além da cobrança comum no esporte de alto rendimento, existe o peso do racismo estrutural, que se infiltra no olhar desconfiado de quem duvida do talento, nas críticas mais duras quando erram e na constante exigência de “provar seu valor”.

Ser bom não basta — é preciso ser impecável.

A dor que não vira manchete

O racismo adoece. Seja nas ofensas diretas, nos gestos sutis de exclusão, ou na ausência de representatividade nas comissões técnicas e diretorias. O impacto disso? Ansiedade, estresse, baixa autoestima, medo de se mostrar vulnerável. Muitos evitam procurar ajuda por receio de parecerem fracos, ou até mesmo de perder oportunidades.

Faltam políticas sérias dentro dos clubes. Faltam profissionais preparados para acolher essas dores. E sobra exposição, cobrança e julgamento.

Representar uma multidão é bonito. Mas também pesa.

Muitos atletas negros não jogam só por si. Sentem que carregam nas costas o orgulho de um povo, o desejo de mudança, a esperança de quem vê neles um espelho. Isso emociona. Mas também esgota.

Ainda assim, novos caminhos estão sendo abertos. Projetos de lei propõem atendimento psicológico nos clubes. Atletas começam a falar, quebrar silêncios, abrir espaço para que outros não precisem sofrer sozinhos.

Porque no fim das contas, saúde mental também é performance. É cuidado. É sobrevivência. É permitir que esses corpos — tão exigidos — sejam também escutados, acolhidos e respeitados. Dentro e fora das quadras.

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?