Quando o racismo, o machismo e a homofobia caminham juntos
Nesta última semana do mês de orgulho LGBTQIA+ e, portanto, muitas indagações serão realizadas, números serão levantados, e a grande pergunta que se vem fazendo ao longo deste mês estará ainda mais presente: o Brasil tem avançado em políticas públicas, uma vez que oficialmente essa faixa significativa da população é representada por milhões de pessoas?
Sabemos que nosso país demorou décadas para colocar o quesito raça nos índices de pesquisas e muitas das conquistas de outros grupos discriminados vêm a reboque desses avanços da causa racial, mas quando chega nos grupos LGBTQIA+ as bases das conquistas raciais acabam sendo limitadas, pois, esse grupo sofre duplas, às vezes, triplas discriminações, como no caso das mulheres trans negras, que são discriminadas por serem pretas, mulheres e trans, em uma sociedade com valores hierarquizados no racismo, machismo e na homofobia.
Qualquer política pública é geralmente antecedida por reivindicações e números, porém os dados desses grupos são bastante falhos em nosso país. Isso fica evidente em alguns falas dos representantes deste segmento, que são categóricos ao questionarem os números e afirmam: embora o Brasil seja o lugar que mais mata a população LGBTQIA+ no mundo, poucas mortes são registradas por homofobia. Isto porque a principal fonte de informação dos pesquisadores é a mídia, que há pouco tempo tem demonstrado interesse em veicular mortes, nesses casos.
Mesmo assim, os números são assustadores: Aqui, uma pessoa LGBTQIA+ foi morta violentamente a cada 32 horas em 2022. Ao todo, foram assassinadas 273 pessoas entre janeiro e dezembro do ano passado, de acordo com o Dossiê de Mortes e Violências Contra LGBTQIA+ no Brasil. Mais da metade das vítimas, 159 pessoas, foram travestis e mulheres trans, representando 58% dos assassinatos. Ao todo, 96 homens gays foram mortos de forma violenta, em 2022.
A síntese desta falta de dados, de políticas públicas direcionadas a essa população e, principalmente, insensibilidade para este assunto, está na fala de alguém que sente isso na pele e deu uma declaração muito tempo atrás, mas que continua atual até os dias de hoje, seu nome Paullet Furacão, transexual, educadora social, que afirma:
“Ser uma transexual é sofrer todos os estigmas possíveis em um país considerado o país da diversidade, do acolhimento e que tem políticas efetivas para sua população”.
Imagine ser uma negra e ainda trans? É saber que eu preciso lutar duplamente para conseguir políticas efetivas. Pensar em uma travesti negra e em uma travesti branca é também pensar que as políticas não conseguem ser implementadas para a população negra.
“Mesmo sendo uma transexual no Brasil, é muito mais fácil que as políticas possam alcançar uma população travesti branca, mas não acontecerá o mesmo fenômeno com as travestis e transexuais negras”.
Ainda estamos longe de uma sociedade justa, igualitária, fraterna, que resultará diretamente em um país menos violento. O Brasil de hoje ainda tem uma hierarquização na taxa de assassinatos e mortes violentas, colocando negros, mulheres e a população LGBTQIA+ no front desta guerra, que só será vencida com educação e políticas públicas reais, palpáveis contra todo tipo de discriminação e racismo.