Raça e Classe nas Eleições dos Estados Unidos
Mal havia acabado o pleito das eleições nos Estados Unidos, a procura dos “responsáveis” pela derrota acachapante de Kamala que poderia se tornar a primeira mulher e não branca a chegar ao posto máximo daquela nação passou a ser pauta em discussões de todos os níveis. As análises foram as mais variáveis, da culpabilização do machismo ao curto tempo de campanha e a dificuldade de vencer uma eleição sendo governo.
De todos os debates que pude acompanhar, uma junção de fatores foi primordial para a derrota da presidenciável, a dificuldade de ter uma fala unificada e se posicionar com pautas cotidianas de uma sociedade dividida, não apenas em progressistas e conservadores, e sim entre pobres e ricos, brancos e negros, mulheres e homens, pretos afro-americanos e pretos imigrantes da diáspora, pessoas letradas e bem nutridas da academia e semianalfabetos, alijados e desesperançosos do sonho americano.
A maior das lições que o país mais rico do mundo pôde mostrar com a derrota da vice-presidente é que o dinheiro não compra tudo, principalmente se uma camada da sociedade estiver profundamente apartada, vivendo à margem econômica e educacional da maioria dos seus pares independentemente da sua cor.
Kamala teve uma das campanhas mais endinheiradas da história dos Estados Unidos. Ao lançar seu nome arrecadou 1,5 milhão de dólares em menos de uma hora em uma plataforma direcionada a mulheres negras do grupo With Black Wilmen, e continuou arrecadando depois de homens negros, mulheres e homens brancos, enfim de todos que temiam a volta de Donald Trump ameaçando a democracia e o bem-estar do país.
Mas quem tem medo de um autoritarismo trumpista quando se enfrentam outros males como: a exclusão, a desigualdade, onde uns ganham muito e outros não têm nem onde morar no país mais rico do mundo, no país da inflação baixa mas custo de vida alto. Donald Trump não venceu a eleição, quem venceu foi o sonho que ele vendeu e representa, daquela América de muitas décadas atrás, onde morar na rua não era uma opção imposta pela crise econômica pós-bolha imobiliária e acentuada com a crise da Covid.
O que se colocou em jogo nesta eleição foram valores, hábitos e costumes comuns em uma parcela significativa da população, independentemente da cor em que a linguagem preparada, acadêmica e por vezes elitista de Kamala não conseguiu alcançar e mais, camada essa que se sente ameaçada não só com o novo imigrante que pode “roubar-lhe o emprego” mas também com os antigos, que conseguiram prosperar e tiveram a audácia de gerar pela segunda vez, e agora uma mulher, para a presidência da República. Lembrando que Obama e Kamala são filhos de imigrantes.
A retórica de Kamala conseguiu trazer empresários e celebridades negras de sucesso para sua campanha, mas seu discurso não chegou aos pequenos empreendedores negros, chegou nos negros da academia, mas não nos analfabetos e nos que não conseguiram sequer chegar ao ensino superior, sua posição antiaborto chegou na camada esclarecida das mulheres assim como chegou na parcela fervorosa das católicas latinas contrárias a essa tese. Seu adversário chegou a todas essas camadas fragmentadas tocando o inconsciente coletivo do “Deus Salve a América” e por meio do candidato… “Eu os salvarei”.
Os Estados Unidos de hoje vivenciam algo que na América Latina se vivencia de tempos em tempos, a era dos “salvadores da pátria”, e irão descobrir com o tempo que esses super-heróis só existem mesmo na ficção e nas páginas de histórias em quadrinhos. Deus salve as Américas e o mundo também.
Mas quem tem medo de um autoritarismo trumpista quando se enfrentam outros males como: a exclusão, a desigualdade, onde uns ganham muito e outros não têm nem onde morar no país mais rico do mundo, no país da inflação baixa mas custo de vida alto. Donald Trump não venceu a eleição, quem venceu foi o sonho que ele vendeu e representa, daquela América de muitas décadas atrás, onde morar na rua não era uma opção imposta pela crise econômica pós-bolha imobiliária e acentuada com a crise da Covid.
O que se colocou em jogo nesta eleição foram valores, hábitos e costumes comuns em uma parcela significativa da população, independentemente da cor em que a linguagem preparada, acadêmica e por vezes elitista de Kamala não conseguiu alcançar e mais, camada essa que se sente ameaçada não só com o novo imigrante que pode “roubar-lhe o emprego” mas também com os antigos, que conseguiram prosperar e tiveram a audácia de gerar pela segunda vez, e agora uma mulher, para a presidência da República. Lembrando que Obama e Kamala são filhos de imigrantes.