A escrita com a luz das fotoescrevivências, de Vilma Neres
Esta coluna tem me dado a oportunidade de entrar em contato com produções literárias incríveis e, por muitas vezes, observo como autores e autoras conversam a partir do que produzem intelectualmente. A arte, a literatura e tudo que o homem produz intelectualmente não é algo isolado, às vezes é, propositadamente, coletivo, às vezes, colaborativo, mas de um jeito ou de outro se conecta. No caso de autores e autoras negros e negras, isso parece que fica ainda mais evidente. Não por acaso, a afirmação: “nossos passos vêm de longe”, faz mais e mais sentido.
Essa foi a sensação ao ler as primeiras páginas do livro de Vilma Neres, lançado em 2021, de forma independente e com apoio do Governo do Estado da Bahia, por meio do Programa Aldir Blanc.
Vilma Neres passeia por uma pesquisa ancorada em entrevistas com sete fotógrafos/as e imagens do trabalho de cada um deles. Esse passeio tem como metodologia o conceito que inspira e serve de metodologia para o livro: “escrevivência”, de Conceição Evaristo, a quem Vilma Neres agradece primeiro.
Conforme destacado no próprio livro, “[…] Escrevência surge de uma prática literária cuja autoria é negra, feminina e pobre. Em que o agente, o sujeito da ação, assume o seu fazer, o seu pensamento, a sua reflexão, não somente como um exercício isolado, mas atravessado por grupos, por uma coletividade”, Conceição Evaristo (2020).
O trecho demonstra que Vilma Neres se conecta ao pensamento da aclamada escritora negra e brasileira, Conceição Evaristo e, partir desse aprender e diálogo negro, feminino, decolonizador e afrodiaspórico, passeia e costura em suas palavras “[…] As conexões estabelecidas entre essas trajetórias é que tanto elas quanto eles compartilham da condição de pessoas negras e do interesse por documentar a experiência social de seus pares em diferentes espaços e momentos históricos que ocorreram na Bahia”.
Lita Cerqueira, Sônia Chaves, Dora Souza, Rita Conceição, Áurea Sant’Anna, Lázaro Roberto e Alberto Lima documentam, com luz, o ser negro/negra.
A autora é jornalista, fotógrafa, produtora, mestra em Relações Étnico-Raciais e pesquisadora. Vilma Neres capta com sensibilidade essa capacidade e feito dos fotógrafos/as apresentados/as no livro. As histórias individuais de cada um deles e delas, se somam a um pensamento coletivo que, ao registrar as pessoas negras, imortalizam o grupo e afastam a invisibilidade, recurso recorrente do racismo.
O livro digital de 114 páginasé de distribuição gratuita e pode ser acessado pelo perfil @fotoescrevivencias no Instagram ou diretamente neste link: https://linktr.ee/fotoescrevivencias
Você também pode saber mais sobre Vilma Neres, seguindo o perfil dela no Instagram http://www.instagram.com/@vilmaneres_
Mundo da Rua Podcast
Acompanhe também as sugestões de livros produzidos por pessoas negras, para pessoas negras e sobre pessoas negras, da nossa colunista Rachel Quintiliano, no podcast Mundo da Rua. O episódio 8 fala do livro Olhos D’água, de Conceição Evaristo.
Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.