Trans Corpo Ético: poesia erótica trans preta, de Tiely
O primeiro livro de Tiely, publicado, é intenso e necessário. Essas foram as duas primeiras palavras que vieram à minha mente quando terminei de lê-lo. Ele já publicou no “Cadernos Negros”, em outras coletâneas e outros projetos coletivos, mas esse talvez esteja inaugurando um passo importante na vida desse autor, que também é multiartista e que eu tive o privilégio de conhecer no final dos ano 90, nas rodas de hip hop na cidade de São Paulo.
Assim como muitos autores negros, dedica o livro à família e a “[…] todes, todas e todos que sempre estiveram comigo e acreditaram na minha caminhada”. Para um homem trans, negro, da periferia, sem dúvida essa dedicatória tem um peso a mais.
Publicado em 2021 pela Ciclo Contínuo Editorial, o livro, que tem apresentação e prefácio de Tanya L. Saunders e Erica Malunguinho, respectivamente, revela mais de 30 poesias, muito bem colocadas e com fotos e imagens que conferem mais dramaticidade para a obra. Aliás, tenho percebido isso nos últimos livros de poesia – o projeto gráfico tem sido um capítulo à parte.
Sempre que indico um livro de poesia, sugiro a leitura preguiçosa com idas e vindas, conforme o humor do dia. Mas esse não. Vale ler de uma vez só, talvez em uma tarde de domingo, com ou sem companhia. É uma explosão e intensidade, que te leva ao deleite, à alegria e também à reflexão.
Todas as poesias são surpreendentes, mas destaco Relógio Corpóreo, “Transição e Libido”.
“[…] nesse corpo que afogo com meus beijos TRANSformo em horas
Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.