Nesta edição sugerimos os livros: “Amoras”, de Emicida e “Aimée e a coroa que não conseguia ver”, de Bruna Cristina e o filme “Kiriku e a Feiticeira”, de Michel Ocelot.
Amoras, de Emicida
Lançado em 2018 pela Companhia das Letrinhas, com ilustrações de Aldo Fabrini, o livro do artista, rapper, produtor, estilista e intelectual negro, Emicida, é dedicado a Estela, nas palavras dele: “a primeira pessoa que vi salvar o mundo”. O livro é baseado na música homônima do artista.
Emicida fala sobre beleza, identidade, autoestima, resiliência e resistência. De maneira simples e envolvente, ele ensina e aprende em um esforço de se conectar com os olhos e os pensamentos de uma criança negra.
Fala sobre religião, sobre a conexão com Deus em suas diversas denominações e apresentações. Em uma conexão com a natureza, apresenta e dá significado para a “Amora” e para as crianças negras. “…quanto mais escuras, mais doces. Pode acreditar”.
Na contracapa do livro, o poeta Sérgio Vaz atesta: “Um livro que rega as crianças com o olhar cristalino de quem sonha plantar primaveras para colher o fruto doce da humanidade”.
Aimée e a coroa que não conseguia ver, de Bruna Cristina
Publicado em 2020 pela editora Clube da Leitura e com ilustrações de Gabrielle Moreira, o livro infantil de Bruna Cristina conta a história de Aimée, criança que sonha em ser uma princesa.
O desejo da menininha é atravessado por uma série de preconceitos e ela quase desiste de se tornar uma princesa de verdade. Até que encontra sua mais velha, sua ancestral em um sonho e entende que aquilo, que para muitos não é aceitável por causa do racismo, é exatamente o que a transforma em princesa.
Trata-se de uma história afrocentrada emocionante sobre beleza, identidade, autoestima e escuta aos mais velhos.
Ela dedica o livro ao seu filho e a todas as crianças pretas na esperança que a história “ possa tocar o coração de cada leitor e que todos possam perceber que somos lindas sim e somos descendentes de Reis e Rainhas”.
Conforme diz a contracapa do livro, Bruna Cristina é professora de educação infantil, pedagoga e pós-graduada em educação infantil e idealizadora do projeto Pro Bruna Indica, focado em indicações literárias com protagonismo negro. Gabrielle Moreira é também pedagoga, ilustradora e idealizadora do projeto @gabinarte.
O livro pode ser adquirido via link no Instagram da autora que te leva a um bate papo direto com ela: intagram.com/bruna_crisstina
Kiriku e a Feiticeira, de Michel Ocelot
Quando comecei a escrever esta edição do Raça Indica, estava pensando, prioritariamente, em recomendações para crianças negras. Mas, repensando, acho que os dois livros sugeridos antes (Aimée e Amoras) e o filme se Michael Ocelot deveriam ser acessados por crianças não negras, para que possam se livrar das armadilhas de uma sociedade estruturada pelo racismo, que ensina desde cedo como e quem discriminar. Exatamente por isso abro aqui uma exceção para indicar uma produção de autoria de uma pessoa não negra, ainda que o elenco original de vozes fosse majoritariamente de pessoas negras.
Kiriku e a Feiticeira é baseado em uma lenda e é uma aula. Kiriku nasce minúsculo, mas com uma sabedoria enorme, com sede por mais informação e com um instinto guerreiro incomum. É um personagem apaixonante.
Na trama, seu objetivo maior é enfrentar e desfazer os feitos maldosos da Feiticeira Karabá. Obviamente, ele não faz isso sozinho. Conta com as orientações dos mais velhos, com a energia e a força da natureza.
A aventura é linda, cheia de obstáculos e conquistas que beneficiam toda a sua comunidade. Mas o grande feito de menino está na empatia, quando descobre que a feiticeira tem razões que aparentemente justificam tanta maldade.
Essa empatia, esse olhar mais amplo é que torna o menino um grande homem. A animação é de 1998 e é totalmente atual, na medida em que aborda temas tão atuais quanto a empatia em tempos tão difíceis como o que vivemos hoje.
Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.