Raça Indica: Binho, o bicho-coisas, de Wagner Bezerra e Heloisa Bezerra

Livros para crianças e adolescentes sempre carregam responsabilidade. Não basta uma boa história, geralmente eles são pensados para educar, ensinar, apresentar aos mais jovens visões de mundo.  é exatamente isso que o livro “Binho, o bicho-coisas”, de Wagner Bezerra e Heloisa Bezerra, publicado em 2020 de forma independente, e com ilustrações de Mariana Sales, entrega. 

O livro conta a história e as aventuras de Theo e seu bichinho de estimação, o Binho. Theo é um menino negro, fruto de um casamento inter-racial, contudo, esse não é um assunto para a narrativa, mas as ilustrações deixaram isso muito nítido. Possivelmente os autores desejaram passar alguma mensagem sobre o assunto ou apenas informar como meninos reais como Theo, sejam negros ou não, estão construindo relações interpessoais, inclusive aquelas mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. 

Theo conta em primeira pessoa sobre o seu contato com um “bicho-coisas” logo que sai da maternidade. Daquele momento em diante, toda a sua trajetória é registrada por “bicho-coisas”, seja o seu próprio, dos pais ou da avó.

O menino, muito atento, logo percebe que o seu “bicho-coisas” era muito mais que uma companhia, já que seus pais trabalhavam muito e ele acabava, por vezes, relegado aos cuidados do bicho de estimação. Theo identificou que o seu “bicho-coisas” era muito sábio, tinha muita informação e, em determinado momento, percebeu que ele usava essas informações para influenciá-lo. 

“[…] Acho que, sem que eu percebesse, ele criava algumas das minhas vontades. Caramba, fala sério, era como se eu fosse o brinquedo dele e não ele o meu brinquedo. Puxa vida, Binho filtrava e editava a minha vida”.

É nesse momento que Theo compreende o que está acontecendo e toma as rédeas da situação. , mesmo considerando as opiniões de Binho, prefere observar, ouvir outras pessoas e fazer suas próprias escolhas.

O livro de Wagner e Heloisa instiga o(a) leitor(a) a percorrer as páginas com vontade e a refletir sobre como as tecnologias de informação estão influenciando, talvez de forma excessiva, a vida de crianças e adultos. 

Com 51 páginas e indicado para crianças com idade entre seis e 10 anos, pode ser encontrado em versão digital ou impressa nas principais livrarias

Mundo da Rua Podcast

Acompanhe também as sugestões de livros produzidos por pessoas negras, para pessoas negras e sobre pessoas negras, no podcast Mundo da Rua, produzido por Rachel Quintiliano.

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Jornalista com experiência em gestão, relações públicas e promoção da equidade de gênero e raça. Trabalhou na imprensa, governo, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais. Está a frente do canal "Negra Percepção" no YouTube e é autora do livro 'Negra percepção: sobre mim e nós na pandemia'.

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