Raça Indica: Lima Barreto, de Cuti
Primeiro Raça Indica do ano, sugere a leitura do livro, “Lima Barreto”, de Cuti, publicado em 2011, pela Selo Negro Edições.
Lima Barreto foi um insurgente. Aquele que revoluciona, que revolta. Obviamente, eu já sabia disso, mas essa foi a palavra que não saiu da minha cabeça enquanto lia o livro do Cuti sobre o escritor e jornalista negro.
Intelectual negro, Lima Barreto não só insurgiu contra as normas literárias de sua época, como, até hoje, sua escrita joga luz àqueles e àquelas que pelo racismo, pela pobreza e desigualdades são fixados à margem da sociedade.
O livro, publicado em 2011, pela Selo Negro Edições, coleção Retratos do Brasil, sob o título “Lima Barreto”, apresenta em poucas páginas (128) um estudo minucioso sobre a obra do escritor negro, Lima Barreto (1881-1922).
Esse é um daqueles livros que eu até me sinto envergonhada em indicar, dada a grandiosidade de Lima Barreto e também do professor Cuti (Luiz Silva). Mas, que ao mesmo tempo, me mobiliza a escrever enquanto continuidade na luta antirracista e para popularizar as narrativas e escritas negras, objetivo dessa coluna.
Voltando ao livro, o autor informa na introdução que “[…] Com variedade de temas e gêneros contidos em sua obra e pela maneira apaixonada com que escreveu, o autor nos deixou um amplo e pulsante painel da vida cotidiana de seu tempo, alcançando-nos com sua capacidade de revelar e problematizar questões perenes, universais – e aquelas para as quais o povo brasileiro ainda não conseguiu encontrar solução”.
“Trilhas do percurso”, “Ficção, realidade e vida pessoal” e “Atualidade temática”
Dividido em três partes, o livro percorre a obra e a vida de do intelectual negro, de tal maneira que se tornou mandatório reler alguns de seus escritos.
Na primeira parte (“Trilhas do percurso”), por exemplo, me faltaram post its para marcar todas as partes interessantes, especialmente sobre a consciência literária de Lima Barreto e sua insurgência diante daquilo que era considerado a boa literatura de sua época, como se pode ver no trecho: “[…] Lima Barreto chegou à conceituação de literatura militante, de caráter social. Entre suas preocupações estavam a moralidade – ou seja, a melhoria das relações entre as pessoas, educando-as – a compreensão do período em que vivia a natureza humana. A literatura teria, assim, uma função transformadora, pois, levando o leitor a refletir sobre suas próprias dificuldades e sobre os problemas sociais, provocaria nele o desejo de mudança”.
Na segunda parte (“Ficção, realidade e vida pessoal”), Cuti constrói pontes para que o leitor comum possa transitar entre a vida e a obra de Lima Barreto. Decerto, Lima fez uma opção consciente em construir personagens tão “reais” quanto ele e, para isso, lançou mão de todas as técnicas que dispunha. Esse é sem dúvida um ponto muito explorado no livro de Cuti, a capacidade intelectual e técnica de Lima Barreto, assim como sua escolha em subverter por forma e conteúdo as “normas literárias” de seu tempo.
Na terceira e última parte (“Atualidade temática”), o autor escolhe falar de Futebol e Racismo, entre os muitos temas presentes na obra de Lima Barreto. A escolha, segundo o próprio autor, se deu, “[…] por sua perenidade e por suas consequências para a vida do país”. Cabe destacar que os temas daquele momento eram frequentes em sua obra e seguem atuais até hoje.
Só por isso, o que é pouco diante do estudo de Cuti e da obra de Lima Barreto, já vale a leitura atenta dessa publicação e a leitura ou releitura de clássicos como “Recordações do escrivão Isaías Caminha”, “Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Clara dos Anjos”.
Segundo o site da editora, “o livro analisa a produção de Lima Barreto e mostra a atualidade dos problemas que ele apontou no início do século XX. O objetivo da coleção é abordar a vida e a obra de figuras fundamentais da cultura, da política e da militância negra”.
“Traga-me a Cabeça de Lima Barreto”
Mundo da Rua Podcast
Acompanhe também as sugestões de livros produzidos por pessoas negras, para pessoas negras e sobre pessoas negras, no podcast Mundo da Rua, produzido por Rachel Quintiliano.