Raça indica: livros

Por: Marcio Barbosa

Aqui na RAÇA você encontra as melhores indicações de livros. Está com dúvida de qual será sua próxima leitura? Então veja só a lista que separamos para você. Boas leituras para você!

O avesso da pele

Jeferson Tenório

Amazon.com: O avesso da pele (Portuguese Edition) eBook : Tenório,  Jeferson: Kindle Store

O ritmo deste romance é intenso. Num fluxo narrativo constante, o personagem, ao mesmo tempo que escreve ao pai, vai contando a vida de seu progenitor e de sua mãe, passando pelos relacionamentos que eles tiveram, pelas dores, egoísmos e culpas. Mas também pelas descobertas, pelos momentos de coragem e afirmação. De maneira quase confessional, o personagem-narrador nos faz ver a humanidade de seus personagens, e podemos notar que a pele é um elemento dentre outros em suas existências, mas que, à medida que eles se tornam conscientes e a história evolui, vai se revelando cada vez mais central. O pai do narrador se apaixonou por uma mulher branca, com quem se relacionou, mas acabou se casando com outra, mãe do narrador. O racismo teve um papel determinante nessa trajetória de desencontros e encontros. Entre namoros, casamento, paternidade e percurso profissional, o pai enfrenta a rotina de lidar com alunos, com suas próprias inseguranças e as de sua ex-esposa, até que é vitimado pela crueldade da violência policial. Às vezes suave, às vezes irônico ou duro, mas sempre pleno de afetos e de reflexões sobre o que é essencial na vida, o texto do escritor gaúcho Jeferson Tenório cita inclusive um personagem que, pode-se dizer, faz uma participação especial: o poeta Oliveira Silveira, um dos idealizadores do 20 de novembro. Vencedor do Prêmio Jabuti de 2021, o livro é uma leitura que surpreende a cada virada de página.

Afrofuturismo: o futuro é nosso — volume 3

Alan Avelino, Anderson Lima, Sabine Mendes, Kinaya (organizadores) Ilustrações: May Solimar, Will Rez

Afrofuturismo “O Futuro é Nosso” Vol. 3 - Editora Ananse - A casa do  pensamento preto

A série “Afrofuturismo – o Futuro é Nosso” tem sido consistente em mostrar possibilidades para o exercício de
imaginarmos como o nosso presente pode ser transformado. Este volume 3, no entanto, adiciona toques de reflexão espiritual à liberdade de se construírem histórias que extrapolam as amarras realistas da vida imediata. Não se enganem, porém. As inquietações que afligem os seres humanos permanecem como foco principal das histórias: alegria, ansiedade, medo, luta contra o racismo são alguns dos temas que permeiam as vidas dos personagens. Ao lado disso, o uso da tecnologia, da inteligência artificial, de seres robóticos e o modo como isso afeta a vida das pessoas também fazem parte de uma reflexão permanente. Mas podemos ver aqui, de forma interessante, que a imaginação pode nos levar por caminhos de emoção e espiritualidade, como no conto
“Sendas Cósmicas Matizadas”, em que a personagem Maria literalmente sai de si para encontrar um ser cósmico num conto atravessado pela questão das cotas. Este volume 3, organizado por Alan Avelino, Anderson Lima, Sabine Mendes e Kinaya traz seis contistas e dois ilustradorxs e mostra que no mundo da ficção o futuro é cada vez mais nosso.

Poesia para encher a laje

Inquérito, Renan

Poesia Pra Encher A Laje 2.0 - INQUÉRITO, Renan - LiteraRUA

O livro do rapper e professor Renan, do grupo Inquérito, passa pelos temas próprios ao universo do hip hop (mas também os extrapola), embalados aqui numa forma que remete à poesia concreta, com muitos recursos visuais. A forma é tão importante quanto o conteúdo, e o interessante é que a mensagem mantém o tom contestador, inovador e rebelde próprio das canções de rap. A laje é esse lugar tão característico da geografia periférica, marcado de maneira afetiva como espaço de encontro, descanso ou lazer. Encher a laje com o concreto da poesia pode ser uma atividade plena de reflexão e doçura: “olhos fechados / lugar mais sincero / onde enxergo / só o que eu quero”, diz um dos poemas, com variações tipográficas que ajudam a dar à leitura múltiplos significados. Em tempos em que a ostentação de valores materiais toma conta das músicas celebradas pelos jovens, Renan traz à tona seu lado educador: “só vou desistir / abortar / minha missão / quando a educação / virar ostentação”. O poeta utiliza nesse texto recursos gráficos que enfatizam o “ão”, como num eco. Ainda explorando os múltiplos sentidos que as palavras podem adquirir, dependendo do contexto (aqui “lápis”
pode ser metáfora tanto para a “educação” quanto para o ato criativo, artístico; e “revolução” pode ser metáfora para o que o/a leitor/a quiser), Renan diz: “também quero a revolução / mas não sou imbecil / quem não sabe usar um lápis / não vai saber usar um fuzil”. Que essa poesia possa preencher as lajes das quebradas e muitas mais.

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