Raça indica: livros
Semanalmente você encontra indicações de obras literárias para conhecimento negro aqui na RAÇA. Acompanhe as quatro indicações dessa semana e enriqueça seus conhecimentos:
CADERNOS NEGROS VOLUME 40 – Contos afro-brasileiros
A década de 70 foi bem agitada. Houve a criação do Ilê Aiyê, o 20 de novembro consolidou-se como Dia Nacional da Consciência Negra e surgiu o Movimento Negro Unificado. E em 1978 foi criada a série Cadernos Negros por Cuti e Hugo Ferreira, com o apoio de Jamu Minka e outros autores. Os Cadernos Negros chegam agora ao 40o volume como um trabalho de resistência. Coordenada desde 1999 por Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa, a série, cujos volumes se alternam entre contos e poemas, tem revelado novos autores e ajudado a consolidar o trabalho de autores mais experientes, como Conceição Evaristo e o próprio Cuti. Os contos de 42 autores distribuídos ao longo de 376 páginas abordam temas como relações afetivas, família, mulher negra, questão racial, dentre muitos outros, levando a leitores de todas as idades um pouco de informação e emoção. “A existência de Cadernos Negros há quarenta anos é algo a ser celebrado diariamente”, diz o ator Lázaro Ramos no texto de capa. Assinam os contos os autores Adegmar Candiero, Adilson Augusto, Akins Kintê, Alcidéa Miguel, Alessandra Sampaio, Aline Soares Negríndia, Ana dos Santos, Ana Fátima, Beatriz Lima, Benedita Lopes, Benicio dos Santos Santos, Boris Calazans dos Santos, Bruno Gabiru, Carlos Santos, Claudia Walleska, Cristiane Sobral, Cuti, D’Ilemar Monteiro, Edenice Fraga, Elaine Marcelina, Eliana Alves Cruz, Esmeralda Ribeiro, Fernando Gonzaga, Gabriel Messias, Jairo Pinto, Joceval Nascimento (Layê), Júlia Costa, Kasabuvu, Leandro Passos, Léo O’Bento, Lepê Correia, Lidiane Ferreira, Márcio Barbosa, Mari Vieira, Miriam Alves, Nana Martins, Paulo Vicente Cruz, Rosa Gabriela, Ruimar Batista, Sacolinha, Samuel Neri e Vina Di Abreu.
COROAÇÕES – Débora Garcia
O percurso literário de Débora Garcia tem sido feito com dedicação e muita garra. Os poemas deste livro exibem, ao mesmo tempo, leveza e energia, doçura e firmeza. São, em muitos momentos, ousados, passeando pelo erotismo e expondo o “eu poético” feminino. Construídos na maior parte das vezes em versos livres, procuram retratar aspectos do cotidiano, captando sensações, impressões, elaborando pontos de vista e trazendo análises sociais. Isso a partir do “estar no mundo” de uma mulher negra. A visão é crítica, mas sem perder a ternura. Porém a condição étnica não é o foco dos textos que se espalham por vários temas, passando por relações afetivas, familiares e pelo registro de um cotidiano bem conhecido pelos que moram na periferia. Os poemas deixam
transparecer uma abordagem contemporânea, honesta, certo lirismo e despojamento. Débora é uma das integrantes do “Sarau das Pretas” e seu percurso criativo tem mostrado a outras mulheres e outros homens como a poesia pode se tornar um alimento essencial para os nossos desejos de respeito e compreensão mútua.
ESCREVIVÊNCIAS: Identidade, gênero e violência na obra de Conceição Evaristo Constância Lima Duarte, Cristiane Côrtes, Maria do Rosário A. Pereira (organizadoras)
A obra da escritora Conceição Evaristo tem conquistado cada vez mais destaque no cenário literário nacional. Em 2017, a autora foi tema de uma ocupação no Itaú Cultural, em São Paulo, e foi uma das principais convidadas da Flip, o festival literário de Parati. Embora sua obra seja mais conhecida recentemente, Conceição escreve há muito tempo e o livro Escrevivências proporciona um mergulho em seu trabalho e nos dá uma dimensão de sua importância. Dividido em cinco partes, o livro traz ensaios de pesquisadores que se debruçaram sobre os textos de Conceição e extraem deles os múltiplos significados, abordando temas como trauma e memória, o corpo negro e a magia da palavra. Conceição Evaristo, ao lado de outras escritoras afro-brasileiras contemporâneas, atualiza uma tradição que tem no passado referências como Maria Firmina e Carolina de Jesus e vem ampliando o leque de possibilidades da participação da mulher negra na literatura.
OLHOS DE AZEVICHE – Ana Paula Lisboa, Cidinha da Silva, Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Esmeralda Ribeiro, Fátima Trinchão, Geni Guimarães, Lia Vieira, Miriam Alves, Taís Espírito Santo
As escritoras negras vêm se tornando protagonistas no cenário literário brasileiro e isso é enriquecedor, pois seu olhar, sua sensibilidade artística e coragem têm lhes possibilitado desvendar aspectos da realidade que a sociedade tende a não dar atenção. Essa visão, por meio da qual se desenham os sentimentos e a inteligência
dessas autoras, está muito bem representada na coletânea Olhos de Azeviche.
Trazendo contos de dez escritoras, o livro é um convite à reflexão que as autoras afro- brasileiras proporcionam ao recriarem, no campo da ficção, a experiência de mulheres contemporâneas que driblam as dificuldades e constroem sua própria narrativa. Nos textos, pode-se ver o questionamento dos papéis sociais determinados pelo
gênero, ao mesmo tempo em que uma afirmação lúcida avisa que é preciso “não aceitar o destino com resignação”. Questões humanas essenciais são abordadas, como a afetividade, a aceitação do próprio corpo, a busca por realização, a necessidade de se visitar o passado para trazer dele ensinamentos para o presente. Ao colocar em foco as lutas que as mulheres em geral têm que travar, esses contos mostram que a literatura tem muito a ganhar quando escritoras negras criativas se apropriam dela trazendo para os textos suas subjetividades.