RAÇA INDICA: Livros

Por: Márcio Barbosa

NÃO PARAREI DE GRITAR – Carlos de Assumpção

Antes de os protestos antirracistas explodirem no final de maio nos EUA, e, a partir daí, em todo o mundo, já havia na mídia um interessante movimento de resgate de um de nossos poetas pretos mais vibrantes: Carlos de Assumpção. Os protestos fizeram com que a grande mídia começasse a dar mais espaço para temas afrobrasileiros e Assumpção teve uma série de reportagens do canal Globo News dedicadas a ele. Aos 93 anos de idade (ou 39 ao contrário, como ele costuma dizer), Assumpção é um exemplo de lucidez e sua poesia é inspiradora. Parte de sua obra pode ser encontrada nos Cadernos Negros.

Agora o livro Não Pararei de Gritar reúne poemas já publicados, além de inéditos, desse escritor, que é uma grande referência desde a concepção do seu antológico poema “Protesto” (de 1956), de onde foi retirado o título do livro. Assumpção carrega a ancestralidade dentro do peito: “Tenho um tambor / Dentro do peito / Tenho um tambor”. Ele se reconhece como um descendente de Zumbi, isto é, herdeiro de sua luta: “Zumbi é meu pai e meu guia / Me envia mensagens do orum”. Sua sensibilidade para os temas cotidianos torna seus textos ao mesmo tempo acessíveis, tocantes e atuais. Embora só agora o restante do Brasil esteja descobrindo poetas como Carlos de Assumpção, nós, que temos o privilégio de conviver com escritorxs pretxs, devemos lê-los sempre.
Maiores informações: www.companhiadasletras.com.br

Recomendo: NÃO PARAREI DE GRITAR, do Carlos de Assumpção | by Vinícius  Neves Mariano | Medium

O PROTESTO PRETO – Martin Luther King, James Baldwin, Malcolm X Entrevistas com Kenneth B. Clark

Este pequeno volume, com as entrevistas que o psicólogo e educador Kenneth Clark fez com três gigantes do movimento negro norte-americano em 1963, é um achado, especialmente tendo-se em conta a discussão sobre por que as mobilizações contra o racismo nos EUA são tão mais intensas do que as que ocorrem no Brasil. O livro, em formato de bolso e rápido de se ler, traz muita luz sobre a posição de cada um dos entrevistados. Kenneth indaga sobre as origens e formação de cada um, mas pode-se dizer que as posições antagônicas de Martin Luther King e Malcolm X é que acabam catalisando o interesse.

Enquanto Martin explica sua filosofia de não-violência, aceitando-a como um modo de vida, Malcolm faz uma crítica afirmando que ela desarma a população negra diante da violência da população branca. Mas, para King, a resistência não-violenta, baseada na boa-vontade que aceita todos os seres humanos, é que desarma o adversário. Malcolm, no entanto, acha que ela impede o homem negro de se defender. Por outro lado, James Baldwin concentra-se em afirmar a sua humanidade e indagar se o povo americano será capaz de aceitar o negro, mas é otimista em relação ao futuro. Percebe-se, pela lucidez e convicção dos três ativistas, a profundidade e seriedade com que encaram a luta pela cidadania. Tendo uma tradição sólida de luta por direitos civis e referências tão inspiradoras, não surpreende que a comunidade negra norteamericana se mobilize tão rapidamente quando ocorre uma injustiça ou um crime, como após o assassinato de George Floyd.

Maiores informações: http://territorioafricano.blogspot.com.br

The Negro Protest James Baldwin Malcolm X Martin Luther King Talk with Kenneth  Clark - AbeBooks

O PRIMEIRO LIVRO DE MARCELINA – Elaine Marcelina / Ilustrações de Gleiciane Dias

Um livro permite vários diálogos. Por meio de um livro, o autor ou autora pode dialogar com os leitores e leitoras e também com outros autores e autoras, tanto do passado quanto do presente. Leitorxs podem estabelecer conversas a partir de um livro. Elaine Marcelina, neste pequeno volume, dialoga também com a pureza das crianças. Seu texto expressa essa pureza com uma poesia direta, que se dirige aos pequenos leitores e leitoras com muita simplicidade.

A história passa pelo tema do prazer da leitura e da importância dos livros. A protagonista, a pequena Marcelina, vibra ao ganhar um livro num sorteio de sua escola. Ela gosta de ler e sua alegria é tanta que ela sonha com a história que o livro conta. Em seus sonhos, Marcelina é uma princesa. A autora sabe que é importante apontar, para as nossas crianças, caminhos que reforcem a autoestima delas, mas com sensibilidade e imaginação. O imaginário é algo que vai sendo construído por toda a vida. Quando Marcelina consegue se imaginar atuando, de forma positiva, para além do seu mundo, isso pode lhe dar instrumentos e motivação para ser o que quiser na vida. Ela pode voar até seu castelo nas asas de seu primeiro livro.

Maiores informações: www.facebook.com/nandyalalivrariaeditora

O primeiro livro de Marcelina

Leia também outras indicações: Três livros para você entender a luta de mulheres contra o machismo e o racismo

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