Raça indica : Livros

Por: Márcio Barbosa

Já selecionou a sua próxima obra literária para ler? Olha só as indicações da RAÇA dessa semana:

CRIANÇAS NAS SOMBRAS

Hedjan CS
Ilustrações: Amora Moreira

Crianças nas Sombras - Editora Ananse - Afrofuturismo - Editora Kitembo
Foto: editorananse

Este é um livro daqueles que dá pra ler de uma só vez, sem parar. A trama é envolvente e evoca um clima de romance policial. O autor nos apresenta a missão da jovem Dandara, professora que trabalha como vendedora em um shopping e que de repente se vê em meio a um dilema: tem que encontrar um adolescente, Akin, morador da Zona Sul do Rio de Janeiro e que sumiu na Zona Norte. Dandara convence sua amiga Moara da necessidade de encontrar o garoto, filho de um amigo que ela não vê faz tempo. O pai de Akin tinha enfrentado sérias dificuldades em seu casamento inter-racial e também desapareceu após a morte da esposa. Mas Akin foi criado no conforto da classe média alta da Zona Sul e Dandara sempre teve carinho por ele. Isso a motiva a ajudar a família a encontrá-lo. Dandara e Moara, repentinamente transformadas em detetives, precisam desvendar as pistas que vão surgindo e que as levam por locais que elas veem como perigosos — assim como o local em que elas moram é visto como perigoso por outras pessoas. Essas pistas colocam as duas diante de outros garotos que não têm muita perspectiva de vida, a não ser seguir o caminho da marginalidade. O texto nos mostra, entretanto, que esses meninos podem ter outras opções se forem apoiados por pessoas que acreditem neles e que tenham coragem suficiente para ajudá-los a descobrir a própria força interior. O final do livro traz a emoção de encontros inesperados.

INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Sidnei Nogueira

Intolerância Religiosa | Amazon.com.br
Foto: Amazon

A religiosidade é algo fundamental na vida de muitas pessoas. Poder ir à igreja, ao terreiro, ao templo, por exemplo, possibilita que muitxs consigam equilíbrio mental. Embora haja religiões que se proponham a alienar e explorar, ter a liberdade de escolher a qual culto ir e exercer a religiosidade visando ao bem-estar pessoal e coletivo é básico. No entanto, os praticantes de certas religiões são tratados de forma diferente. Cotidianamente vemos adeptos das religiões afro-brasileiras sendo perseguidos, terreiros sendo destruídos, pessoas morrendo em consequência da discriminação em relação a essas religiões. Neste pequeno volume, Sidnei Nogueira mostra que no cerne da intolerância está a vontade de definir o que é normal e aceito e diferenciar do que é anormal e, portanto, não deve ser aceito. No fundo, é uma relação de poder. Estigmatiza-se o “outro” para assim silenciá-lo, apagá-lo, excluí-lo. Em sua rigorosa análise, Sidnei mostra também que a restrição à liberdade religiosa não é algo novo na história, dando o exemplo da civilização mesopotâmica, em que qualquer conduta que divergisse da religião oficial era taxada de “bruxaria”. Sidnei resgata a simbologia da encruzilhada e afirma que é aí que podemos encontrar nossas origens ancestrais, a auto compreensão, a restauração e continuidade. Este livro nos ajuda a compreender a importância de garantir que a religiosidade de cada um seja respeitada e a liberdade de cultuar aquilo que faz bem seja um direito.

AMOR SEM MISÉRIA: TEXTURAS

Milsoul Santos

“Amor sem Miséria” é um título bastante feliz porque corresponde a dois desejos da maioria das pessoas: serem amadas e viverem distante de situações de carência material. Milsoul traz, neste livro, texturas diversas que passeiam por esses caminhos de encontros e desencontros com o afeto e a prosperidade. Há poemas mais formais na métrica e há textos em prosa que não perdem ritmo e lirismo. Em comum os escritos têm uma pegada urbana, com temas familiares: “Nos amamos tanto, mas o dinheiro acabou. / Dois duros de mãos dadas só propagam a dor (…) Sei que a gente se ama, mas o dinheiro acabou”. O relacionamento entre homem preto e mulher preta é visto sob diversos ângulos, sempre por meio dos personagens Zumbi e Dandara: “O coração de Zumbi, cansado de tanto apanhar, encontrou-se com o coração de Dandara, cansado de tanto se machucar. E nasceu amor, amor verdadeiro. Dandara e Zumbi quiseram-se por inteiro”. Entretanto, as dores provocadas pelo racismo e por outras mazelas podem interromper esse amor. Porém, contra o racismo e suas terríveis consequências, o poeta acredita na força da escrita: “a escrita que me usa, / disputa, / contra a bala e contra a pedra, / as cabeças das crianças da favela”. Fundamental é o poeta percorrer as camadas de dor e esperança para poder desnudar os sentimentos, mantendo o foco: “Colho saberes nas vaias, / não me perco nas palmas e uso, / constante e cautelosamente, / a minha lente ancestral. / Quando se é preto, / agir assim é fundamental”.

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