Raça Indica: Livros

Filha do fogo 2 contos de amor e cura

Elizandra Souza

Já que é imprescindível seguir as orientações das autoridades da área de saúde nestes tempos de pandemia, ficar em casa na companhia de bons livros é mais divertido.

Os livros podem nos auxiliar a atravessar situações difíceis, enquanto nos envolvemos com os dramas e as alegrias das personagens, como estas que habitam as páginas de Filha

do Fogo. Os contos curtos são narrados em primeira pessoa, o que nos ajuda a compartilhar a intimidade das mulheres que nos vão sendo apresentadas. Podemos viver mais de perto as emoções dessas mulheres, estejam elas contidas em recordações de infância, como quando a pequena Inã consegue se ver refletida nas chamas ao acender sozinha o fogão a lenha de sua avó, ou em problemas de personagens adultas, como Dara, que, incomodada com seu cabelo, não se sente bem quando seu namorado coloca os dedos nele.

Mas Dara encontra redenção quando, ao aceitar seu cabelo como ele é, se abre para o afeto que lhe é ofertado. Donas de seus corpos e de sua liberdade, as personagens relatam os conflitos em seus relacionamentos, mas também os prazeres que sentem com seus parceiros. Elizandra tem desempenhado um papel importante na cena literária paulistana com o Sarau das Pretas e com seu ativismo em relação à poesia periférica. Este livro mostra a maturidade e elegância de seu texto.

O pequeno príncipe preto

Rodrigo França

Ilustrações de Juliana Barbosa Pereira

A maioria dos livros aos quais crianças e adolescentes têm acesso traz personagens baseados no imaginário europeu. Então, é bem divertido quando se pode mudar um pouco e fazer uma releitura afrocentrada de alguns desses chamados livros clássicos. Esta é a ação para a qual nos convida o ativista cultural e ex-BBB Rodrigo França. Depois de participar do Big Brother — que, inexplicavelmente, sempre tem um número reduzido de negrxs — e de ter usado o espaço para levantar questões importantes, Rodrigo continuou sua trajetória no teatro e, como escritor, nos presenteia com essa história cheia de sensibilidade.

O Pequeno Príncipe mora em um minúsculo planeta com sua árvore Baobá, a quem recorre quando precisa recarregar sua energia. Mas ele quer visitar outros mundos. Em cada planeta que vai conhece seres que têm amor demais ou de menos, mas ele deixa uma semente da Baobá, com a esperança de ver desabrochar afetos e ubuntu. “Sabedoria é comida que nos alimenta”, reflete o Pequeno Príncipe. Seu grande desafio ocorre quando chega ao planeta Terra, com sua última semente. Rodrigo nos fala de ancestralidade, de esperança, de amor e de como essas coisas podem afetar de forma positiva a vida das pessoas.

A cor da ternura

Geni Guimarães

Vivemos em uma época na qual podemos assistir a filmes fascinantes, como Pantera Negra; séries surpreendentes, como Raio Negro, que nos mostram super-heróis com os quais intimamente nos identificamos. Mas basta uma pandemia como essa do coronavírus para que nossas inseguranças desabrocham com força. Não temos superpoderes, somos seres limitados, mas é assim que somos e sobrevivemos, e ficamos bem depois que os tempos ruins passam. Mas um bom livro sempre ajuda em fases de dificuldade. E como ir a uma livraria nesta época de distanciamento social? Bom, pode-se pedir o livro de casa e receber pelo correio. Funciona. Ler bastante não é contra indicado nestes tempos de contaminação. Os vírus que devemos desejar que se espalhem são o da sabedoria, o do afeto, o do apoio mútuo. E é isso o que o pequeno romance de Geni Guimarães transmite. As recordações de infância da personagem deixam os olhos marejados diante da poesia que se ergue mesmo em meio ao maior sofrimento. Geni fala de amor entre mãe e filha, entre irmãos e irmãs, mas também fala da dureza que os bancos escolares e a vida na fazenda em que a personagem mora pode trazer. A pureza do olhar da criança contrasta com a realidade de pobreza, mas a personagem não perde a ternura, embora pressinta a dor. Este, pode-se dizer, é um daqueles livros que se tornam clássicos, pois sobrevivem ao tempo e podemos sempre retornar a eles para renovarmos nossa energia.

Negras lideranças mulheres ativistas da periferia de São Paulo

Eliete Edwiges Barbosa

Falar do protagonismo de mulheres é também falar de mulheres anônimas que têm garantido a sobrevivência de famílias e tradições, para as quais a resistência à opressão é uma constante. Essa resistência não é só feita de paciência, mas é construída também por ações concretas e é isso que o livro de Eliete Edwiges vem mostrar.

Resultado da dissertação de mestrado da autora, a obra dá visibilidade a mulheres que atuam em movimentos de periferia como lideranças que vão em busca de soluções para problemas como os de saúde, habitação e educação.

Nessa trajetória, enfrentam impactos na vida afetiva expressos por solidão e conflitos, mas disseminam possibilidades diferentes de serem mulheres e compreenderem a condição de muitos dos que estão à sua volta, como jovens em situação de risco, adolescentes grávidas e usuários de drogas. Para isso, exercem sua capacidade de ouvir e dialogar e assim não só reafirmam sua própria humanidade como também ajudam a resgatar as dos que as

Negras lideranças mulheres ativistas da periferia de São Paulo

Eliete Edwiges Barbosa

Falar do protagonismo de mulheres é também falar de mulheres anônimas que têm garantido a sobrevivência de famílias e tradições, para as quais a resistência à opressão é uma constante. Essa resistência não é só feita de paciência, mas é construída também por ações concretas e é isso que o livro de Eliete Edwiges vem mostrar.

Resultado da dissertação de mestrado da autora, a obra dá visibilidade a mulheres que atuam em movimentos de periferia como lideranças que vão em busca de soluções para problemas como os de saúde, habitação e educação.

Nessa trajetória, enfrentam impactos na vida afetiva expressos por solidão e conflitos, mas disseminam possibilidades diferentes de serem mulheres e compreenderem a condição de muitos dos que estão à sua volta, como jovens em situação de risco, adolescentes grávidas e usuários de drogas. Para isso, exercem sua capacidade de ouvir e dialogar e assim não só reafirmam sua própria humanidade como também ajudam a resgatar as dos que as cercam.

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