Raça Indica: Poesia para pandemia, de Paulo Sabino
Já se foram praticamente 700 dias desde que a pandemia de Covid-19 foi anunciada pela Organização Mundial da Saúde. Os efeitos e as consequências são devastadores. Vidas foram perdidas e muita gente ainda sofrendo com as consequências de uma crise sanitária não esperada e sem precedentes.
Em tempos difíceis como este, a poesia pode ser um bom “remédio”. Foi isso que pensei ao ler às duas páginas de apresentação do livro, “Poesia para a pandemia”, de Paulo Sabino, que organizou e reuniu 160 poemas de diversos autores e autoras, entre eles e elas, Nei Lopes, que abre o livro, Oswaldo de Andrade, Itamar Assumpção, Hilda Hilst, Gilberto Gil e Sérgio Vaz, entre outros e outras.
O livro é resultado de um projeto de Paulo Sabino, que ele nomeou de “40tena em versos”, naquele momento ainda acreditando que seriam necessários 40 dias de isolamento social.
O projeto cresceu com o tempo e o autor é assertivo ao firmar que a “[…] obra pretende ser eclética, diversa, vária. Reúne uma gama de vozes, estilos, assuntos e gerações de escritores organizada de acordo com os diálogos que articulei entre os poemas, para granjear algum ordenamento do material”.
Identifiquei-me imediatamente com o autor, porque assumi essa coluna, “Raça Indica”, no segundo ano de pandemia, para ler novos livros e revisitar alguns que já tinha lido e compartilhar com os/as leitores/as da Revista Raça minhas impressões sobre literatura negra, aquela é que feita por pessoas negras, para pessoas negras e/ou sobre pessoas negras. Minha intenção inicial era também conectar autores/as e suas produções, com o tempo fui perdendo o fôlego, mas a coluna continua firme e apresentando as mais variadas obras.
É exatamente nessa linha que costura a publicação, que se encontra a riqueza da obra. O primeiro poema é o mestre Nei Lopes, que me socorre com frequência por meio da Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. O poema, intitulado “Licença”, é a comissão de frente do livro.
“[…] Licença que eu vou cantar
Porque cantar é uma benção
E quem se julga e se pensa
Capaz de o canto vibrar
Assim, sem pedir licença
De prender ou libertar
E quando vai pelo ar
Pode trazer recompensa
Mas também pode atrasar”.
Na sequência está um poema de Alberto Pucheu, que é um chamamento para todos os povos do mundo.
Mas, eu, ansiosa por natureza, resolvi ler o livro aos poucos, desafiando a costura muito benfeita por Paulo Sabino e fui direto para os textos de Gilberto Gil, Itamar Assumpção, Hilda Hilst, Sérgio Vaz, Paulo César Pinheiro e Elisa Lucinda, que nesses dias tem morado na minha cabeceira, através do livro, “Quem me leva para passear”.
“[…] A cena matutina tocou meu peito,
veio ascender-me a sala do espanto.
No entanto, agora percebo, já era ela em campo:
A pesquisadora do momento,
a Dra. poesia que aqui se apresenta em
versos livres ao vento, mas me usa, vitoriosa, para o que desde
cedo queria …
Exercer em minha alma sua paleontologia”.
Trecho do poema, “A expedição”, de Elisa Lucinda.
Poesia para Pandemia
O livro de 604 páginas, dedicado à Jurema e Otto, publicado em 2021, pela editora Autografia, traz também ilustração de capa de Chico Lobo. Segundo o site da editora, “Poesia para pandemia”, de Paulo Sabino, “mistura poemas inéditos e já publicados, que buscam dialogar com o momento que atravessamos, de vírus solto no ar, indagações e reflexões sobre onde chegamos e o que pretendemos a partir daqui”.
Segundo o site, “Recanto do Poeta“, Paulo Sabino é poeta, jornalista e ativista cultural, é um dos grandes nomes da militância poética na atualidade, sendo o organizador de diversos movimentos, ações e atividades literárias. Curador do selo “Bem-Te-Li”, é autor do livro “Um Para Dentro Todo Exterior”, publicado em 2018. Atualmente edita o site literário “Prosa Em Poema” e coordena os projetos “Ocupação Poética” e “A Estante do Poeta”, além do “Sarau do Largo das Neves”, todos na cidade do Rio de Janeiro.