Em maio de 2023, na cidade de São Gonçalo (RJ), duas influenciadoras, Kerollen Vitoria Cunha Ferreira e sua filha, Nancy Gonçalves Cunha Ferreira, (brancas) com mais de 13 milhões de seguidores nas redes sociais, publicaram um vídeo no qual ofereciam a duas crianças negras, de nove e dez anos de idade, uma banana e um macaco de pelúcia.
O vídeo viralizou e as crianças foram expostas criminosamente, ridicularizadas, sendo alvo de piadas, discriminações e ofensas de toda ordem. Tudo isso, porque essa era a formula com que essas influenciadoras faziam sucesso e ganhavam dinheiro na internet.
Isso é o que chamamos de Racismo Recreativo!
Termo cunhado pelo pesquisador Adilson Moreira, em livro lançado em 2019, onde explica que essa expressão deriva de práticas consideradas “brincadeiras inocentes” ou de “humor negro”, mas que em verdade são formas racistas de desqualificar pessoas negras, em particular crianças e adolescentes.
A reação da sociedade a essa postagem, em particular da comunidade negra brasileira, foi gigantesca. A indignação e comoção tomou conta do país e o ato criminoso foi parar na justiça. Afinal, eram duas inocentes crianças negras sendo utilizadas para a monetização nas redes sociais e o divertimento dos racistas de plantão.
De forma cínica, as criminosas afirmaram que não haviam feito nada demais. Era apenas uma brincadeira.
Para a juíza Simone de Faria Feraz, da 1ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo, município da Região Metropolitana do Rio, o que elas fizeram foi uma “monstruosidade”:
“… as rés criaram conteúdo, ridicularizaram as crianças. Pouco importa se no momento em que (…) recebe uma banana e (…) um macaco de pelúcia não tivessem, naquele momento, repito, a perfeita consciência da chibata em seus pequenos corpos”. Afirmou a juíza.
Por isso mesmo, condenou as duas influenciadoras racistas a 12 anos de prisão em regime fechado por injúria racial.
Ainda segundo a juíza, “nada mais absurdo querer fazer crer que nesses dias de conhecimento imediato, fácil acesso, as rés não soubessem o que é racismo”. “o que fizeram as rés, em íntimo de vontades, foi sangrar, mais uma vez, em açoites os nascidos de África. (…). “Até porque, faziam seu ganha pão, nada módico, é bom de ver, justamente em publicações em rede mundial de computadores”.
Em verdade a sentença da juíza é lapidar!
Aliás, a irresponsabilidade, os crimes e a desfaçatez dos racistas nas redes sociais, sob o manto da “liberdade de expressão”, precisa mais do que nunca ser combatida e punida com todo rigor. Neste sentido, temos que não só parabenizar a decisão da juíza, como também fazer dessa decisão um instrumento de combate ao racismo recreativo que tem vitimado tanta gente em nosso país.
Por fim, é importante lembrar que esse fato não é muito diferente daquele foi denunciado recentemente pelo influenciador Felca sobre a adultização e exploração sexual contra crianças e adolescentes que vem ocorrendo nas redes sociais.
Daí que, só teremos ações preventivas e eficientes contra esses tipos de crimes e criminosos quando tivermos a regulamentação, bem como a responsabilização das chamadas plataformas sociais (Big techs) no Brasil.
Chega de impunidade!
Que essa decisão corajosa da juíza Simone Faria Ferraz sirva de exemplo e crie jurisprudência no país para que assim evitemos que casos semelhantes venham a ocorrer novamente.
Toca a zabumba que a terra é nossa!