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Racismo, um tema internacional desde sempre

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Zulu Araujo

É Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

Há 65 anos, a Organização das Nações Unidas – (ONU), instituiu o dia 21 de março, como o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, isso por conta do Massacre de Shaperville, ocorrido, na África do Sul, na mesma data, em 1960, quando a polícia sul-africana assassinou 69 adolescentes e feriu mais de 200 mulheres e crianças, quando mais de 20 mil pessoas protestavam contra o regime do Apartheid. 

Esse massacre que comoveu o mundo e levou a ONU a se pronunciar de forma tão contundente, deixou claro que o racismo é uma questão eminentemente internacional. 

Afinal, o apartheid, regime criminoso que segregava os negros em seu próprio pais, onde eles representavam 92% impedindo-os de acesso a quaisquer direitos e que foi responsável pela tortura e morte de milhares de sul africanos, bem como pela prisão do grande líder Nelson Mandela, por mais de 27 anos, era decorrente do processo de colonização europeu. 

Além disso, não apenas o apartheid sul-africano foi construído e apoiado pelos europeus, como também toda a ocupação do Continente Africano realizada a partir da famigerada Conferência de Berlim, (1884/85), quando os países europeus (Rússia, Grã-Bretanha, Dinamarca, Portugal, Espanha, França, Bélgica, Holanda, Itália, mais os Estados Unidos) dividiram o Continente Africano entre si, para escravizá-lo e explorá-lo. 

Em verdade, se aprofundarmos um pouco mais, veremos que o racismo é filho dileto do empreendimento colonial europeu, que não só classificou e hierarquizou o mundo do ponto de vista racial, como também outorgou aos brancos europeus cristãos e seus assemelhados, a condição de superiores e por conta disso merecedores de todas as benesses e privilégios que houvesse mundo afora. 

Se no nascedouro o racismo foi um empreendimento internacional de origem europeia, a expansão e consolidação do modo de produção capitalista o tornou uma ferramenta essencial do mundo ocidental cristão em defesa e na manutenção dos seus privilégios.  

As decisões e encaminhamentos adotados pelo governo atual dos Estados Unidos no tocante a pauta racial e da diversidade, não nos deixa mentir e dizem bem dos propósitos e objetivos que os supremacistas brancos estão planejando para o futuro próximo. No Brasil, caso eles vençam o próximo pleito eleitoral, não será diferente. 

Daí que, para contribuir de fato com o significado do 21 de março, celebração que visa a eliminação de todas as formas de discriminação racial, é preciso compreender que o racismo não só é parte integrante de um sistema de discriminações, exclusões e violências que está presente em todo o mundo e tem servido para justificar toda sorte de perseguições, exclusões, intolerâncias, massacres e genocídios, como também que o seu combate precisa se dar no plano internacional.

Sendo o Brasil, o pais detentor da maior população negra fora do continente africano, no qual o racismo é exercido largamente e de forma bastante sofisticada, nos quais os interesses internacionais se fazem presentes, é necessário que o movimento negro brasileiro, seja exemplar e que busque se adequar aos novos tempos e imprima definitivamente o caráter internacional na sua luta antirracista. 

É bem verdade que o momento é de dificuldades. Os setores democráticos estão encurralados, os movimentos sociais apáticos, as formas, conteúdos e pautas da sociedade civil estão dispersas e desorganizadas e o movimento negro brasileiro, devagar quase parando. 

Mas, ainda assim, nós estamos aqui. 

Portanto, deixar as querelas de lado, superar as mesquinharias acusatórias e integrar o movimento negro brasileiro ao movimento antirracista internacional é fundamental. 

Neste sentido, pautas como: o racismo recreativo, o racismo no futebol mundial, extermínio da juventude negra e a criação de fundos de promoção da igualdade racial são essenciais. 

Viva o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e toca a zabumba que a terra é nossa! 

 

Zulu Araújo é Arquiteto, Mestre em Cultura e Sociedade e Doutor em Relações Internacionais pela UFBA. Ex-presidente da Fundação Palmares.

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