Rapaz … lá só tem preto!

Texto: Evandro Calisto

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Quem for a Salvador, especificamente no Pelourinho e perguntar quem é Negra Jhô será imediatamente conduzido ao casarão número quatro da Rua Frei Vicente, mas o que essa negra nascida num quilombo da cidade de São Francisco do Conde faz para ser tão conhecida? Turbantes, tranças, penteados negros. Resgate permanente da sua origem. A origem dela, da família dela e seus ancestrais, que por coincidência são ancestrais de quase toda população da cidade.

Por isso em cada esquina do Centro Histórico tem alguém oferecendo aos turistas a possibilidade de trançar o cabelo, fazer um turbante ou um corte africano. E não imagine ser barato.

O que faz turistas de todos os lugares, etnias e culturas  se vestirem como negro em Salvador?

Simples, fiz essa pergunta em São Paulo a um grupo de viajante e eles responderam: rapaz, lá só tem preto!

Ao descerem na Bahia, os de fora, não se apropriam da nossa cultura, eles não roubam nossa identidade, tão pouco usam de forma indevida. Imersos no caldeirão cultural sentem a presença negra em cada esquina e são impelidos por um magneto, de forma coercitiva, a se tornarem iguais a quem determina  espaço e  poder.

Na mesma cidade, no carnaval, existe um bloco ligado de forma umbilical ao candomblé – um afoxé, constituído de três mil associados, os Filhos de Gandhy. Semanas antes da farra momesca surgem inúmeras Negras Jhô, apenas para confecção do turbante indispensável na fantasia. Hoje mais da metade são não negros e turistas. Questionados porque sair no Gandhy, em uníssono respondem: porque ficamos bonitos, é bonito e as mulheres amam.  Todos ficam bonitos quando colocam o turbante negro, as contas dos orixás e perfumam a avenida de alfazema.

Não pense que alguém usando nossos turbantes, roupas, símbolos religiosos e elementos simbólicos, estarão se apropriando da cultura negra. Apenas percebem o quanto somos bonitos, e ao carregarem, todos sabem no meio da multidão, o que são. A história não se dissolve num turbante ou numa traça. O uso apenas reafirma o que sempre falamos do Brasil: só tem preto.

Caso você se sinta em exclusão, trance seu cabelo, coloque nosso turbante e sinta o que é ser belo.

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