Resgate da história do cantor Patrício Teixeira

O colunista Oswaldo Faustino resgata a história do intérprete brasileiro Patrício Teixeira. Confira

 

TEXTO: Oswaldo Faustino | FOTO: Reprodução | Adaptação web: David Pereira

Oswaldo Faustino resgata a história de Patrício Teixeira | FOTO: Reprodução

Oswaldo Faustino resgata a história de Patrício Teixeira | FOTO: Reprodução

Era véspera de meu 61º aniversário, dia 20 de março, quando fui surpreendido pela notícia de que Emílio Santiago, um dos mais talentosos interpretes da MPB, tinha partido “sem aviso prévio, para o andar de cima”, como afirma o ator e apresentador Rolando Boldrin. Emílio ainda toca nas rádios, mas podem se preparar para o dia em que ele cairá no esquecimento. Podem me chamar de pessimista e, a esses, faço um convite para vasculhar em sua própria memória pelos grandes artistas classificados como “insubstituíveis” e que nunca mais encontraram espaço na mídia, a não ser em um ou outro evento especial.

Um e-mail do amigo Gerdal Jose de Paula, falava de Patrício Teixeira. Não duvido que você tenha perguntado: “Quem?” Provavelmente porque a carreira de Patrício, iniciada em 1918, se encerrou, com sua morte, em 1972 – há mais de 40 anos – e nunca mais se tocou seus discos ou o mencionaram. O que seria injustificável, numa sociedade que valorizasse, para sempre,seus grandes artistas. Sobre ele, em 1927, afirmou o jornal carioca Correio da Manhã: “Patrício Teixeira é, sem favor, o intérprete mais popular e querido de nossas canções. O Rio de Janeiro admira-o e o tem aplaudido sempre com entusiasmo. Além disso, Patrício Teixeira recomenda-se por suas qualidades pessoais, as quais granjearam-lhe inúmeras simpatias e amizades em nosso meio social…”

Da infância de menino órfão de pai e mãe, nascido na Praça Onze, na última década do século XIX, ao reconhecimento de “artista mais popular” – um dos pioneiros a serem contratados pelas gravadoras – foi uma grande jornada, que passou por atividades humildes, como a de vendedor de produtos na rua. Autodidata, porém, Patrício descobriu os segredos das harmonias e acordes do violão, tocados nas serestas e encontros de boêmios pelas ruas e bares de Vila Isabel e na região da praça onde nasceu. Resolveu, então, escrever seu próprio método para o instrumento, publicado pela editora dos Irmãos Vitale. Artistas como Aurora Miranda, irmã da famosa Carmen, Linda Batista, a atriz Maria Lúcia Dahl e as irmãs Danuza e Nara Leão, que se tornaria musa da bossa nova, também se valeram dos ensinamentos desse sempre elegante mestre de terno com corte impecável, para extrair, com seus delicados dedos, a sonoridade daquelas cordas de aço. “Quero chorar, não tenho lágrimas que me rolem na face pra me socorrer…”. Patrício foi o primeiro a gravar para o Carnaval de 1938, que o gravou em espanhol, com o título de Come to Mardi Grass, no LP “A mis Amigos”, de 1959. Essa canção, gravada em 1959 por Nat King Cole está na trilha sonora do filme Touro Indomável, de Martin Scorsese, com o título de Come to Mardi Grass.

O Correio da Manhã destacou suas “qualidades pessoais, as quais granjearam-lhe inúmeras simpatias e amizades em nosso meio social…”. Sabia ser benquisto onde quer que estivesse. Fosse entre os frequentadores das festas, entre os ricos da zona sul do Rio, ou em reuniões de sambistas e chorões, como também nas seções de candomblé da casa de Tia Ciata (a iyalorixá Hilária Batista de Almeida), era sempre muito bem recebido. Uma dessas amizades merece destaque: o comendador italiano Osvaldo Riso – que, entre outras atividades, foi presidente da Cinzano S/A e consultor da Pirelli no Brasil – foi quem o acolheu, já adoentado, no início da década de 1970. Patrício recebeu do casal ilustre o convite para se hospedar na Villa Riso, por quanto tempo fosse necessário. Camélia, a esposa do comendador, esculpiu seu busto, em bronze, e o instalou sobre um pedestal no jardim do casarão principal, hoje um dos locais mais finos do Rio de Janeiro, alugado para casamentos e eventos. Faleceu aos 79 anos, deixando mais de duas centenas de musicas gravadas, em 78 rotações. Seu histórico método para violão formou uma boa quantidade de alunos e alunas que ajudaram a construir a história da MPB.

 

 

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