Respondendo aos pretos e pardos.

No último artigo que escrevi, aqui na Revista Raça, “Nem todo pardo é preto, será?”, em 29/11/2024, houve uma grande polêmica, sobre o uso “incorreto” da palavra preto, no título da matéria, visto que, segundo o IBGE, a junção de preto com pardo é negro e não preto.

Em primeiro lugar quero agradecer aos leitores da Revista pela atenção dada ao texto e a preocupação com a correção conceitual. Foram milhares de acessos e centenas de comentários, prós e contras a abordagem.

Em segundo lugar reafirmar que a Revista Raça não visa atingir exclusivamente o público acadêmico, com seus rigores acadêmicos e elitistas.  O que entendo da revista é o compromisso da mesma com a comunidade negra como um todo. Daí usarmos uma linguagem que seja acessível e da compreensão de todos/as.

Em terceiro lugar, replico abaixo, o segundo parágrafo do artigo, que deixa claro a explicitação conceitual do termo negro, para efeito no censo populacional brasileiro: 

Um dado preocupante, em particular, para o movimento negro brasileiro, que ao longo de décadas conseguiu avanços significativos na luta pela promoção da igualdade racial, lastreado, exatamente no conceito adotado pelo IBGE, que considera, para efeito de pesquisa, que a junção entre pretos e pardos, era equivalente a condição de negro.

Ou seja, não houve nenhuma “má fé” ou desinformação conceitual do significado da palavra negro no texto, mas sim, o uso no seu “senso comum”, coisa aliás feita pela maioria absoluta da comunidade negra brasileira, onde preto e negro, possuem o mesmo significado. 

Mas, o importante mesmo do artigo, não é a questão conceitual, mas sim, a política. O artigo critica o entendimento equivocado que parcela do movimento negro brasileiro, em particular os mais jovens, tem tido, ao adotar o “colorismo” enquanto critério de identificação de quem é ou não negro.  

O “colorismo” divide, o “colorismo” afasta, o “colorismo” prejudica a unidade do movimento negro, em torno da sua causa maior que é o combate ao racismo. Do mesmo modo que o identitarismo. 

Mais grave ainda, ignora, em nome da cor da pele, o papel fundamental que a Democracia possui para o avanço das nossas pautas na luta pela promoção da igualdade racial no país. 

Neste sentido, vale a pena repetir: sem democracia, sem Estado Democrático de Direito, todos nós iremos para a vala comum do fascismo. Portanto, democracia não é uma opção. É uma necessidade. 

Aliás, muitas lideranças negras vem demonstrando preocupação com esse debate sobe o colorismo, a exemplo de Sueli Carneiro, grande liderança feminista do Gelédes que na celebração dos seus setenta anos, num vídeo intitulado “Feminismos negros”, afirmou o seguinte: 

“É uma conversa que me incomoda muito, essa história do colorismo. Simplificando, é um tiro no pé esse debate. Porque eu pertenço a uma geração que teve que se esforçar muito para construir esse capital político extraordinário que constituiu a categoria negro, como resultado da somatória de pretos e pardos. Isso foi um esforço que exigiu um trabalho de engenharia política, um esforço acadêmico extraordinário, envolveu toda uma vasta produção sobre as desigualdades raciais no Brasil, uma vasta e extensa produção desde a década de 1970, sobre a similitude de condições sócios econômicas, compartilhadas entre negros e pardos”.

Enfim, o debate é bom e saudável, mas o avanço das nossas lutas em defesa da promoção da igualdade racial, mais ainda. 

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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