Revolta dos Búzios: uma história mais do que atual

Por: Zulu Araújo

No próximo dia 12 de agosto, a Revolta dos Búzios estará completando 224 anos de existência e por mais incrível que possa parecer, seus objetivos de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” continuam mais do que atuais.  “Animai-vos Povo Bahiense que está para chegar o tempo feliz da nossa Liberdade”, este era o chamado eloquente encontrado em um dos 12 boletins sediciosos afixados em locais de grande circulação na cidade da Bahia, no dia 12 de agosto de 1798, data em que eclodiu a Revolta dos Búzios, que reflete bem o espírito revolucionário que reinava em parte da população baiana àquela época. Afinal, eram tempos de revoluções: França (1789), Haiti (1791).

Os boletins, chamados de sediciosos pelo Império Português e que se encontram intactos sob a guarda do Arquivo Público do Estado da Bahia, expressavam com clareza os ideais revoltosos estimulados pela Revolução Francesa, após terem tomado conta do Haiti resultando na derrubada do regime escravocrata e assunção dos escravizados ao poder. Esse processo histórico assustou o mundo, particularmente os escravocratas europeus, afinal era a primeira vez que um movimento de escravizados era vitorioso e assumia o poder.

É por conta dessa importância histórica que revisitamos a Revolta dos Búzios, nos dias atuais, como forma de reconhecimento e homenagem àqueles que deram suas vidas por princípios e ideais que continuam sendo vitais para o processo civilizatório da humanidade e mais ainda do Brasil. Neste sentido, levando em conta o momento histórico em que estamos vivendo, onde a democracia, o processo civilizatório e até mesmo os princípios basilares da liberdade estão sendo postos em xeque, lembrar a Revolta dos Búzios, não é, nem pode ser apenas rememorar o passado, lembrar da dor e do sofrimento, da opressão e violência e do sangue derramado pelos nossos antepassados. É, e deve ser também, a celebração da vida, do combate ao racismo, da defesa da democracia, da cidadania e, sobretudo do Estado Democrático de Direito, ideais que os nossos antepassados Lucas Dantas, Manuel Faustino, João de Deus e Luiz Gonzaga das Virgens defenderam com suas próprias vidas.

Para quem não sabe, a Revolta dos Búzios foi organizada por negros escravizados, libertos, trabalhadores pobres e alguns membros das elites brancas liberais baianas. E teve o seu ápice no dia 12 de agosto de 1798. Não houve disparos de armas de fogo, nem tiros de canhão, mas os planos dos revoltosos fizeram tremer não só as autoridades locais, quanto às do império. Por isso, eles foram presos, julgados e condenados.  Importante lembrar que esse julgamento se encontra na integra nos acervos do Arquivo Público do Estado da Bahia/FPC e revela a parcialidade e brutalidade com que o poder colonial reagiu a Revolta.

As penas foram extremas: Manoel Faustino, Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus e Lucas Dantas, líderes da Revolta(hoje heróis nacionais): foram condenados à morte, enforcados e esquartejados. Seus corpos expostos nas ruas de Salvador: 28 revoltosos foram condenados a penas que variavam do exilio na costa ocidental da África, degredo na ilha de Fernando de Noronha e prisões entre cinco a dez anos em Angola. No caso dos escravizados, pena adicional de 500 chibatadas no Largo do Pelourinho. Era a “pedagogia da violência” sendo exercitada na plenitude para deixar na memória dos vivos o terror da morte.  Por isso mesmo, reafirmamos – “Está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade”.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

Comentários

Comentários

About Author /

Start typing and press Enter to search

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?