Rodrigo França vai dirigir espetáculo sobre a vida de Jorge Lafond

Por Isadora Santos

Espetáculo contará a história de vida e carreira de Jorge Lafond, que ficou conhecido como pela personagem Vera Verão

O ator Jorge Lafond terá sua trajetória contada em um espetáculo musical intitulado “Jorge Para Sempre Verão”. Ícone LGBTQIA+ dos anos 90, Lafond pode ser considerado uma referência pela trajetória na televisão, sendo ele um homem negro, retindo e gay que ocupou um espaço na tV e no coração do público.

As inscrições para viver o protagonista estão abertas e os produtores buscam “atores negros, retintos, maiore de 21 anos e com noções de canto e dança”. A direção do espetáculo será de Rodrigo França e o texto da dupla Aline Mohamad e Diego Mesquita.

Conversamos com França sobre os detalhes da preparação para o espetáculo.

Como surgiu a ideia de dirigir um musical sobre a vida de Jorge Lafond?

Rodrigo França – Do desejo de dar eco, de fazer uma reparação do quanto Jorge Lafond era genial e que essa genialidade tem que romper gerações. E quando eu falo “dar eco” é sobre dar essa potência que ele continua sendo. 

Pouco se fala sobre a vida pessoal de Lafond, que tipo de curiosidade a respeito da intimidade do ator veremos no palco?

Rodrigo França – É um espetáculo que vai falar justamente sobre as subjetividades que são esquecidas em relação a às pessoas negras, as camadas que nos colocam como humanos, na medida que você objetifica, hipersexualiza os corpos negros, principalmente quando esses corpos negros fogem de uma estrutura heteronormativa. É um espetáculo que vai falar sobre sobre afeto, que vai fazer rir e muito se emocionar. A gente vai falar, por exemplo, da solidão que atingiu Jorge Lafong como atinge muitas pessoas negras, principalmente as que são homossexuais e que de uma certa forma a sociedade não enxerga na relação da intelectualidade, não enxerga na relação da afetividade e muitas vezes perpassam a vida inteira no obscuro, nos amores escondidos, onde a outra parte não assume e se envergonha. 

Lafond foi um ícone LGBTQIA+ em um período que pouco se falava sobre o assunto. Qual o legado dele para os jovens negros da comunidade hoje?

Rodrigo França – O grande legado, que eu acredito, é ser realmente o que a pessoa é e não aquilo que desejam que ela seja. Ele morreu sendo dessa maneira. A grande luta dele foi pelo respeito da na sua característica, do seu comportamento, da sua vivência, da sua história e que tem, justamente, o recorte racial, que tem um recorte da sua orientação sexual e que codifica tudo aquilo que a sociedade não quer ver, que a sociedade não espera. Então, a existência do Jorge Lafond já estabelecia uma grande bandeira. 

É curioso ver como Lafond, um homem negro, retinto, afeminado, foi aceito pelo público da televisão nos anos 90. Além do talento, que é inquestionável, o que você você atribui ao fato dele ter sido uma figura tão querida do público, considerando que seu sucesso se deu em um período em que as pessoas eram ainda mais conservadoras?

Rodrigo França – O Brasil continua sendo conservador, pseudo moderno, reacionário. É uma coisa é estar na televisão fazendo brasileiro rir, outra coisa é estar dentro de casa, sendo filho, sendo filha, sendo vizinho, sendo vizinha. Tem um distanciamento que a televisão coloca e soma com a camada no humor, até aí sim, mas a gente não pode esquecer que o Brasil ele continua sendo o país que mais mata LGBTQI+ no mundo. Ele continua fabricando violência diariamente a esses corpos que são marginalizados.

Lafond faleceu em 2003 por problemas cardíacos, mas poderá ser relembrado e aclamado em breve, nos palcos.

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