Revista Raça Brasil

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Romilda Pizani leva às universidades dos EUA a força e a resistência das mulheres negras

Aos 48 anos, Romilda Pizani, mulher preta, periférica e militante do movimento negro em Mato Grosso do Sul, está prestes a viver um marco em sua trajetória: levar a voz e a experiência das mulheres negras brasileiras para uma universidade nos Estados Unidos.

Convidada pela professora e cientista política Gladys Mitchell, Romilda será palestrante na Universidade Central da Carolina do Norte, no dia 19 de outubro. O tema escolhido não poderia ser mais potente: “Mulheres negras: trajetória de luta e resistência no Brasil”.

Para ela, o convite tem um peso especial.

“Esse convite vem para uma Romilda que poderia ser para mais uma Maria brasileira, sabe? Para mim, ele tem um significado imenso no sentido de ir falar sobre as nossas lutas, os nossos avanços”, reflete.

Nascida e criada no bairro Guanandi, em Campo Grande, Romilda lembra da infância simples, cercada por brinquedos de filha única, mas também marcada pelo racismo.

“Eu era a única menina preta da rua. Passei por diferentes formas de discriminação, desde a violência até situações na escola. Eu trago comigo todas essas lembranças”, conta.

Foi em meados dos anos 1990 que ela encontrou no movimento negro o espaço de transformação. Um convite do ativista Carlos Porto a levou ao Grupo TEZ, onde descobriu que não estava sozinha.

“O movimento negro foi e é um divisor de águas na minha vida. Ele me mostrou que nem tudo era minha culpa e me fez perceber como a sociedade nos olha. Hoje, eu digo com todas as palavras que sou fruto do movimento negro”, afirma com firmeza.

Representatividade além do Brasil

Nos Estados Unidos, Romilda também visitará outras universidades e abrirá diálogos sobre feminismo negro e políticas públicas. A viagem acontece em um momento simbólico: às vésperas da Marcha Nacional das Mulheres Negras, marcada para novembro.

Mas, além do compromisso político, há espaço para os sonhos pessoais.

“Eu não vou deixar de ir ao Brooklyn. Quero assistir a um culto em uma daquelas igrejas que eu via nos filmes da Sessão da Tarde, com as mulheres negras cantando e usando aqueles chapéus maravilhosos. Isso vai ser muito especial”, conta, sorrindo.

Romilda carrega em sua história a força de quem não desistiu diante dos “nãos” da vida.

“Eu sou uma mulher sem recursos, a quem a sociedade insiste em dizer ‘não’. Mas valeu a pena a insistência. Não acredito que, para ser feliz, a gente precise sofrer, mas sei que a felicidade não vem facilmente para todos. Quando olho para trás, vejo que tudo tem o seu tempo. Existe o mistério da manhã, como eu digo, que a gente só entende depois”, compartilha.

Além da militância, Romilda integra o coletivo Mulherio das Letras e se prepara para lançar um livro com suas “escrevivências” — memórias e experiências que agora cruzam fronteiras e ganham o mundo.

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