O craque do Liverpool não deixou passar batido: pediu respostas sobre a morte do “Pelé palestino” e lembrou que, diante do horror, o silêncio também machuca.
A UEFA publicou, neste sábado, uma homenagem a Suleiman al-Obeid — ex-jogador da seleção palestina, apelidado de “Pelé palestino”. Na nota, disse que ele foi “um talento que deu esperança a incontáveis crianças, mesmo nos tempos mais sombrios”. Palavras bonitas. Mas, para Mohamed Salah, não eram suficientes.
O atacante egípcio repostou o texto e fez três perguntas simples, diretas, dolorosas:
— Você pode nos dizer como, onde e por que ele morreu?
A resposta não veio. Mas a Associação Palestina de Futebol respondeu no lugar deles: Suleiman foi morto em 6 de agosto, no sul da Faixa de Gaza, por forças de ocupação israelenses. Esperava ajuda humanitária. Tinha 41 anos, era casado e deixou cinco filhos órfãos.
Era mais um nome na lista de vidas interrompidas por um conflito que, para muitos, já virou paisagem. Um nome que poderia ter sido esquecido — se Salah tivesse escolhido o caminho mais confortável: ficar quieto. Mas ele não ficou.
Ao se posicionar, entrou num terreno minado, onde as conversas perdem o bom senso e se transformam em gritos: onde se reconhece que o Hamas é um grupo terrorista e que seu ataque foi covarde; onde se denuncia que o governo israelense usa esse ataque como justificativa para massacrar civis; onde se lembra que criticar o Estado de Israel não é atacar o povo judeu; e onde também é preciso admitir que, sim, movimentos pró-Palestina às vezes cruzam a linha para o antissemitismo.
Mesmo nesse campo de ruídos, Salah decidiu dizer o óbvio que tantos evitam: que é absurdo ver o horror acontecendo enquanto, ao lado, a vida segue “normal”. Seu grito não devolve vidas, mas pode dar algum alento a quem sente que foi esquecido.
Enquanto isso, a Palestina espera desde o ano passado por uma resposta da Fifa sobre o pedido de sanções a Israel — como aconteceu com a Rússia, suspensa do futebol internacional em 2022 por causa da guerra na Ucrânia. Até agora, silêncio.
O gesto de Salah não resolve o conflito. Mas soma sua voz a um clamor urgente: parar de matar quem busca comida, parar de matar jogadores, parar de matar crianças — inclusive as que vestem a camisa 11 do Liverpool e sonham ser como ele.
Porque, às vezes, não falar também é escolher um lado.