Salvador – A Capital da Diáspora Africana nas Américas
Salvador sediou no último final de semana (29, 30 e 31/08/24), um evento histórico, que lamentavelmente passou despercebido tanto na grande imprensa quanto no grande público. Estou falando da I Conferência da Diáspora Africana nas Américas, realizada na cidade.
Aqui estiveram autoridades governamentais da União Africana, das Américas e do Brasil.
Em artigo impecável, intitulado “Ministros negros do Governo Lula se reúnem em Salvador em conferência”, o jornalista Mauricio Pestana (CEO da Revista Raça) destacou as principais questões que foram alvo de discussões nessa primeira Conferência da VI Região Africana e promovida pela União Africana, pelo Governo Federal e Governo do Estado da Bahia, contando com o apoio da Universidade Federal da Bahia.
Segundo Pestana:
“O principal foco das discussões é o desenvolvimento sustentável das nações africanas e das comunidades afrodescendentes nas Américas, como o Brasil. Além disso, o incentivo e a troca de conhecimentos e experiências, reforçar identidades culturais e facilitar parcerias transnacionais focadas em tecnologia, educação e saúde”
Em que pese as dificuldades inerentes a um empreendimento desse porte, num país que historicamente tem negligenciado suas relações com o continente africano, particularmente no período de 2014/2022, assim como com sua população negra nativa, podemos afirmar que a Conferência cumpriu com seus objetivos.
Os esforços e dedicação dos representantes do MinC, MIR, SEPROMI e UFBA, não deixaram dúvidas nesse sentido. Uma verdadeira força-tarefa foi montada para que Salvador pudesse honrar com sua condição da cidade mais negra fora do continente africano.
Exemplo disso foi a participação intensa dos representantes da sociedade civil, tanto do Brasil quanto das Américas, que de forma consciente e propositiva apresentaram um conjunto de propostas para que fossem levadas ao Togo, pais que sediará o 9° Congresso do Pan Africanismo, em outubro deste ano.
Uma dessas propostas merece nossa atenção, bem como do Governo Federal, pois além de deixar honrado qualquer brasileiro, em particular o baiano, aponta para a superação de um desafio concreto no enfrentamento do racismo na diáspora que é questão do desenvolvimento econômico e social das populações afrodescendentes.
Refiro-me a criação de um agencia de desenvolvimento, por parte da Organização das Nações Unidas, (ONU) (aprovada por unanimidade) com vistas a promover o desenvolvimento econômico, social e político dos afrodescendentes nas Américas.
“No espírito do estabelecimento da 6ª região da União Africana, o grupo de planejamento Pan-Africanista insta a União Africana a estabelecer uma agência permanente, preferencialmente em Salvador, Bahia, como um meio/ferramenta para restaurar a história do Pan-Africanismo que reconheça a contribuição de mulheres, jovens, movimentos sociais de base etc., a fim de desenvolver uma consciência Pan-Africana entre as coletividades dos povos africanos, utilizando tecnologias tradicionais e novas”
Essa proposta é um passo adiante, na luta pela promoção da igualdade no âmbito internacional, naquilo que tange ao continente africano e a sua diáspora.
Sabemos muito bem, que os discursos retóricos e cheio de boas intenções que acompanham esses encontros, não têm sido suficientes para a mudança do quadro de exclusão, discriminação e pobreza em que vivem as populações afro-diaspóricas, bem como o continente africano.
Para tanto, é preciso que tenhamos condições econômicas, materiais e políticas que transformem os discursos em realidade. E neste sentido, nada melhor do que um organismo multilateral, com a participação de da sociedade civil e dos entes governamentais para que tal objetivo seja alcançado.
Neste sentido, exortamos o Governo Federal do Brasil, para que faça dessa proposta da sociedade civil da VI Região Africana, também uma proposta do Governo brasileiro e que assim possamos dar um passo importante na luta pela promoção da igualdade no mundo.
Toca a zabumba que a terra é nossa!