O censo do IBGE de 2022 tem apresentado uma novidade a cada dia e jogado por terra mitos e lendas arraigados no imaginário popular da sociedade brasileira.
Desta vez, a grande novidade é a religiosidade na cidade de Salvador. Pelos dados obtidos no censo, boa parte da sua população, não ajoelha nem reza, contrariando o adágio popular de que Salvador seria a cidade da fé.
Salvador, é tida e havida, para os demais brasileiros/as, em particular os turistas, como a capital da fé do país, fruto do apelo turístico e do folclore que se estabeleceu sobre a chamada “boa terra”.
Reza a lenda que a cidade possuía uma igreja para cada dia do ano. Além de milhares de terreiros de candomblé.
Mas, segundo o último censo, apesar de existirem mais de 6.000 templos religiosos na cidade, entre católicos, candomblecistas e evangélicos, há um forte crescimento dos sem religião na cidade.
Ou seja, o número de pessoas que não se identificam com nenhuma religião tem crescido vertiginosamente, visto que no censo passado representava em torno de 12,9%.
Em verdade, segundo os dados do IBGE, Salvador é a capital brasileira com o maior número de pessoas que se declaram sem religião.
Não é que todo mundo seja ateu, mas sim, sem qualquer filiação religiosa. Parece que o discurso e o mercado da fé, tão em alta no restante do país, anda meio por baixo em Salvador, particularmente entre a juventude.
Ainda segundo o IBGE, os menos crentes estão na faixa dos 20 aos 24 anos.
Os dados indicam que são quase 20 por cento da população soteropolitana que se declara sem religião (18,5%), representando quase 600 mil pessoas que revelam não possuir religião alguma.
A média brasileira dos sem religião é de aproximadamente 10%, segundo o IBGE, por isso mesmo surpreende o índice de Salvador, considerado bastante alto, para a tradição religiosa soteropolitana.
Segundo estudiosos no assunto, os segmentos religiosos no Brasil estão passando por modificações profundas, desde os anos 1990, aumentando significativamente o trânsito religioso, ou seja, as pessoas tem transitado ou trocado de religião sem grande comprometimento.
O que isso significa, é coisa para especialistas em religião, mas o fato é que do ponto de vista cultural, transformações profundas estão sendo operadas na capital baiana e que podem trazer surpresas nada agradáveis, em futuro próximo, para os mercadores da fé alheia.
Outro dado interessante que o Censo traz é o aumento significativo dos adeptos das religiões de matriz africana que teve um aumento de quase 300 por cento nos últimos 10 anos.
Esse aumento, deve ser creditado, provavelmente a luta incessante dos candomblecistas no combate a intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, conforme afirma o doutor em antropologia e Babalorixá Vilson Caetano:
“As religiões de matrizes africanas vêm conscientizando os próprios adeptos a sair do anonimato e verbalizar qual é a sua religião. As políticas públicas nos últimos 12 anos que contemplaram as comunidades tradicionais e povos de terreiros também contribuem para isso”
Ou seja, paralelo ao crescimento dos evangélicos (muito em função da perda de adeptos do segmento católico), está ocorrendo um fenômeno interessante em Salvador, uma parte da juventude não está acreditando em nada que não seja concreto, material.
Enfim, os “sem religião”, são um grupo cada vez maior em nossa sociedade, com forte presença entre os jovens, que estão questionando as instituições religiosas e desafiando a lógica e o dogmatismo religioso brasileiro.
Toca a zabumba que a terra é nossa!
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