São Paulo, da Diversidade, Inclusão e Dualidade
Por Mauricio Pestana
Hoje vou falar de uma jovem senhora, que mais inclui dentro estruturas seculares de exclusão. São Paulo, a cidade mais diversa do Brasil, a cidade com maior número de libaneses fora do Líbano e a cidade que concentra a maior comunidade japonesa fora do Japão. E o que pouca gente sabe: São Paulo também é a maior cidade negra da América Latina! Aqui, segundo o IBGE, mais de 4 milhões de pessoas se autodeclaram negras.
Mas, em um dia de festa quero registrar aspectos da cidade que mostram o tamanho de sua generosidade quando se fala em acolher, incluir o diferente: a metrópole deu oportunidade, nas últimas décadas, para quatro descendentes de libaneses a comanda-la. Falo de Paulo Maluf, Gilberto Kassab e também de Fernando Haddad, prefeitos todos de origem libanesa. Prefeitos de direita, centro e de esquerda que a cidade acolheu e escolheu para dirigi-la.
Também no passado quando quase não se falava em diversidade e inclusão, São Paulo elegeu a nordestina Luíza Erundina como sua prefeita e depois deu a Marta Suplicy também essa oportunidade e a um negro Celso Pitta.
Do ponto vista econômico, dados do Fórum Brasil Diverso, o qual eu presido mostra que em cada dez empresas que trabalham na área de inclusão de negros, mulheres, LGBTQI+, nove têm sede em São Paulo. Não é por acaso que a primeira CEO negra de uma empresa global no Brasil é paulistana, minha amiga Rachel Maia, e também Maurício Rodrigues, CEO para América Latina de uma divisão da gigante e global Bayer, é negro e paulistano, assim como meu outro amigo Edivaldo, hoje CEO da Amil, também negro e paulistano. Duvido que outra cidade do país ou mesmo da América Latina concentre um número tão grande de pessoas diversas nascidas para liderar como nesta cidade.
E digo mais… Mesmo quando sistemas políticos excludentes insistem em expulsar, em excluir seus filhos, a cidade não aceita e trata de se reinventar e acolher de volta; um exemplo: a industrialização e reurbanização da cidade, nas primeiras décadas do século passado, expulsou parte de seus moradores negros que se concentravam no centro da cidade para a periferia, para o outro lado do Tietê. Uma boa parcela significativa desses negros foram para a Zona Norte, Casa Verde, Limão, Brasilândia, não por acaso hoje das 10 maiores escolas de samba da cidade, principal matriz da indústria criativa se concentra nessa região. Indústria preta criativa que hoje faz da Feira Preta, a maior da América Latina, dirigida por outra paulistana Adriana Barbosa.
Mas, se falei da Zona Norte não posso esquecer da Zona Sul, berço do hip-hop da cultura urbana da cidade, casa dos Racionais MCs e não posso também esquecer da minha Zona Leste, onde nasci, sede do poderoso Timão, da Nenê de Vila Matilde, dos Forrós Nordestinos de São Miguel e Itaim Paulista. Também hoje tem o centro reinventado que ainda guarda a tradição italiana do Bixiga e do Quilombo da Saracura, casa da mais preta de todas as escolas de samba, a querida Vai-Vai e tem ainda o lado Oeste da cidade,o Pico do Jaraguá, Aldeias Indígenas, USP, Heliópolis, Paraisópolis, enfim, muitas faces da cidade mais diversa do país que, apesar de muita exclusão, também continua sendo uma terra de muitas oportunidades. Dualidades dessa amada cidade.
Mauricio Pestana
Jornalista, CEO da Revista RAÇA Brasil, Especialista para áreas de Direito e Inclusão da CNN Brasil e consultor empresarial de Diversidade e Inclusão