“Se não falamos de racismo, não estamos falando de desigualdade e violência”, afirma especialista em criminologia, racismo e violência em seminário
Durante o seminário Boas práticas em Direitos Humanos e Igualdade Racial, que ocorreu na Casa da ONU, em Brasília, o pesquisador Felipe Freitas, especialista em criminologia, racismo e violência pela Universidade Estadual de Feira de Santana foi incisivo ao lembrar que o racismo está no centro das desigualdades. “Às vezes, quando falamos de desigualdade e direitos humanos, parece que falamos de algo periférico na administração pública. Na verdade, não se governa uma cidade sem pensar nesse tema. Se não falamos de racismo, não estamos falando de desigualdade e violência. E não tem problema mais decisivo para o futuro de uma cidade do que a desigualdade e a violência”, afirmou.
Cerca de 30 gestores e formuladores de políticas do Governo do Distrito Federal (GDF) participaram, na última sexta-feira, do seminário para debater sobre igualdade racial e direitos humanos. A iniciativa, resultado de uma parceria entre o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial do DF, contou com a contribuição de profissionais renomados nas áreas.
A oficial de Gênero, Raça e Comunicação do UNFPA, Rachel Quintiliano, ressaltou a importância de que os formuladores de políticas entrem em contato com o assunto, para que tomem decisões com foco na igualdade, equidade, enfrentamento ao racismo, xenofobia e discriminações correlatas. “Sabemos que a promoção da igualdade, da equidade e da justiça racial são fundamentais para o alcance do desenvolvimento sustentável e das metas específicas que precisamos alcançar na agenda de população e desenvolvimento. Estamos, mais uma vez, nos disponibilizando a contribuir e apoiar no fortalecimento das capacidades da administração pública”, explicou.
O subsecretário de direitos humanos e igualdade racial, Juvenal Araújo, declarou estar muito feliz com a oportunidade. “A agenda do Cairo, da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, é o que guia nosso trabalho, e estamos caminhando juntos com o UNFPA para desenvolver as políticas públicas e ter esse foco”, afirmou.
Discriminação e violência
Um dos destaques da programação foi a participação do pesquisador Felipe Freitas, especialista em criminologia, racismo e violência pela Universidade Estadual de Feira de Santana. O pesquisador lembrou que o racismo está diretamente relacionado à violência, que atinge especialmente pessoas negras e em situação de vulnerabilidade. “Temos números que refletem uma guerra, mas é uma guerra que não está espelhada na igualdade pelos territórios”, lembrou.
O professor doutor em geografia pela Universidade de Brasília (UnB), Rafael Sanzio, por sua vez, ressaltou a necessidade de reorganizar o território e de visibilizar a população negra, uma vez em que, anos após a abolição da escravatura — que deixou raízes profundas na organização da sociedade brasileira –, os reflexos ainda se manifestam. “O Brasil está pronto, maduro, para evoluir, mas está agarrado em suas raízes coloniais. No fundo, é medo. Como seria se os negros e negras do Brasil assumissem o poder, tivessem território e acesso à educação?”, questionou.
O debate se estendeu até o período da tarde. O jornalista, cartunista e diretor-executivo da Revista Raça, Maurício Pestana, foi um dos convidados a falar sobre emprego e geração de renda. Ele pontuou que a desigualdade social está diretamente relacionada à desigualdade racial e que, sem uma mudança de pensamento inclusive das organizações, é impossível avançar. “Quando temos esse pensamento de igualdade dentro da economia e do desenvolvimento, a forma como o tema vai sendo abordado muda. Não basta discutir o emprego ou trabalho, mas também a distribuição de renda”, observou.
Fonte: ONU