STF: Piquet é inocentado em caso de racismo contra Hamilton

Segundo ONG, TJDFT “falhou gravemente” ao anular condenação

A ONG Educafro Brasil, fundada por frei David Santos, vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que anulou a condenação do ex-automobilista brasileiro Nelson Piquet por manifestações racistas e homofóbicas contra o piloto Lewis Hamilton. O caso deve chegar ao Supremo Tribunal Federal, que julga temas relacionados à igualdade racial e de gênero, ao respeito, à honra e à imagem.

Em nota, frei David criticou a decisão do tribunal:
“A EDUCAFRO Brasil entende que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal falhou gravemente. Embora respeitemos a Corte, entendemos que a gravidade do caso mostra a necessidade de avançar no letramento racial dos nossos magistrados. Quem nada sabe sobre a dor sofrida pela maioria afro-brasileira da nossa população não está apto a compreender demandas como essa”.


Piquet foi condenado, em março deste ano, a pagar R$ 5 milhões em indenização por danos morais coletivos após chamar Hamilton de “neguinho”, em entrevista a canal do YouTube. A apelação de Piquet foi analisada pela 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.


Para o advogado da Educafro, Márlon Reis, a proposta de recorrer se deve ao que considera uma “banalização” das palavras ditas por Piquet.
— O direito precisa estar a serviço da igualdade, não da banalização das palavras embebidas no mais puro racismo e LGBTFobia. Os tribunais precisam sentir a dor que a maioria da população sofre em momentos como esse — explica.

A ação que motivou a condenação foi movida por organizações de direitos humanos e LGBTI. As entidades sustentam que Piquet foi racista com Hamilton durante a entrevista, ao comentar um acidente no qual ele se envolveu, com Max Verstappen, genro de Piquet, em 2021, e compará-lo com um episódio que aconteceu com Ayrton Senna, em 1990.


“O neguinho meteu o carro e não deixou (desviar). O Senna não fez isso. O Senna saiu reto. O neguinho deixou o carro porque não tinha como passar dois carros naquela curva. Ele fez de sacanagem. A sorte dele foi que só o outro (Verstappen) se f… Fez uma p… sacanagem”, afirmou na ocasião.


O juiz Pedro Matos de Arruda, da 20ª Vara Cível de Brasília, em sua decisão, disse que “no sentido de que não se deve apreciar apenas a função reparatória da responsabilidade civil, mas também (e talvez principalmente) a função punitiva, exatamente para que, como sociedade, possamos nos ver algum dia livres dos atos perniciosos que são o racismo e a homofobia”.


Hamilton se pronunciou
O piloto inglês, além de sua equipe e outros representantes da categoria, se posicionou sobre o caso. Por meio de sua conta no Twitter, em português, ele disse, na época, que a prioridade no momento é “focar em mudar a realidade”.


“É mais do que linguagem. Essas são mentalidades arcaicas que precisam mudar e não têm lugar no nosso esporte. Fui cercado por essas atitudes e alvo de minha vida toda. Houve muito tempo para aprender. Chegou a hora da ação”, escreveu o piloto em outra publicação, em inglês.

que Hamilton se tornava alvo de provocação da família Piquet. Nelsinho Piquet, filho de Nelson e também ex-piloto, em outra oportunidade demonstrou que não é muito fã de Hamilton, assim como o pai.


Em dezembro de 2021, ele comemorou efusivamente o título mundial de Max Verstappen, quando o holandês conseguiu ultrapassar o britânico na última volta do GP de Abu Dhabi. Depois, apareceu vestindo uma camisa com a estampa “Patrão é meuzovo”. Patrão é como fãs e comentaristas apelidaram Lewis Hamilton.


Nelsinho competiu na Fórmula 1 entre 2008 e 2009. Em 2009, protagonizou escândalo na categoria, ao confessar ter provocado um acidente para beneficiar o companheiro de equipe, Fernando Alonso. Como comprovou que a ordem partiu dos chefes da Renault e colaborou com as investigações, passou sem punição pelo caso.

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