Supermercado Atakarejo e o Tribunal do Crime na Bahia

“Pense num absurdo e a Bahia tem precedente”, afirmava o ex-governador da Bahia Otávio Mangabeira na década de 50. Pois bem, o Supermercado Atacadão Atakarejo, localizado num bairro popular (Nordeste de Amaralina) da cidade do Salvador/BA e uma das maiores redes atacadista do país, confirmou de forma sádica e cruel essa máxima do ex-governador baiano.

Em plena luz do dia, manhã de 26 de abril do corrente ano, dois jovens negros e pobres (tio e sobrinho): Bruno Barros da Silva e Ian Barros da Silva, o primeiro com 29 e o segundo com apenas 19 anos, foram assassinados com mais de 30 tiros nos rostos, após tem sido julgados, torturados, condenados e executados por traficantes do bairro.

O fato ocorreu após os jovens terem sido flagrados por seguranças do Atakarejo furtando quatro peças de carne para matar a fome da família. Inicialmente eles foram espancados à vista de todos/as pelos próprios seguranças e por não terem conseguido o dinheiro para pagar o furto, os jovens em vez de serem encaminhados à polícia, foram entregues aos traficantes da área e submetidos ao Tribunal do Crime local.  

Segundo denúncias de várias testemunhas que presenciaram o fato, os jovens pediram desesperadamente que fossem entregues à polícia, pois sabiam que iriam morrer, tendo inclusive telefonado para amigos e parentes pedindo ajuda. Mas, a sucessão de absurdos prosseguiu a vista de todos. O sentimento de impunidade da rede de supermercados era tamanho que os jovens foram fotografados, os áudios divulgados pelas redes e os pedidos de ajuda gravados sem que isso tivesse causado qualquer receio aos seguranças criminosos.

Mas, o absurdo dos absurdos é o Atakarejo uma das maiores redes atacadistas da Bahia, manter um acordo com uma organização criminosa para punir eventuais furtos nos seus estabelecimentos. Mais grave ainda é que seu proprietário é um homem público, dos mais ricos do país, que declarou a justiça eleitoral em 2020, quando concorreu pelo DEM a prefeitura de Lauro de Freitas (cidade importante da região metropolitana de Salvador), possuir fortuna patrimônio da ordem de R$ 341.286.568,00. Isso mesmo, mais de 341 milhões de reais. E até o momento mantém um silêncio ensurdecedor sobre o caso.  

A sociedade baiana está estarrecida, inúmeras organizações do movimento negro tem se manifestado, parlamentares e familiares das vítimas pedem justiça e punição exemplar para os culpados. A polícia civil baiana está investigando o caso, outras vítimas tem aparecido deixando evidente que este não foi um fato isolado, mas que é uma prática corriqueira da empresa, com provável anuência dos seus gestores.

Lamentável, que em pleno século XXI, cenas e práticas bárbaras como estas ainda se façam presentes em empreendimentos comerciais ditos legais e cujos proprietários são chamados de pessoas “de bem”. Isso é racismo, violência e insensibilidade em estado concentrado quando se tortura e mata pessoas que estavam apenas tentando matar a fome.

Toca a zabumba que a terra é nossa!r

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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