Atriz carioca, conhecida por papéis históricos na TV e no cinema, volta a interpretar a cantora em produção que promete resgatar a trajetória da artista “do fim do mundo”.
Nesta semana, foi anunciada a cinebiografia de Elza Soares (1930-2022), uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira. A informação, de que Taís Araújo interpretará novamente a cantora, foi divulgada pela revista Variety,. O filme, com roteiro de Patrícia Andrade (“Dois Filhos de Francisco”) e Viviane Pistache, deve iniciar as gravações no segundo semestre de 2026 e será produzido pela O2 Filmes..
Em 2003, Taís Araújo deu vida à cantora no filme “Garrincha: Estrela Solitária”, que retratava o casamento da artista com o jogador de futebol. A própria Elza, falecida em 2022, chegou a expressar admiração pelo trabalho de Taís, escrevendo em redes sociais: “Tenho a sensação de que temos o mesmo sangue”.
O longa abordará desde a infância de Elza na favela até sua ascensão como ícone cultural, destacando sua luta contra o racismo, o machismo e a pobreza. Andrea Barata Ribeiro, produtora da O2 Filmes, descreveu a trajetória da cantora como “uma fênix que sobreviveu em um mundo que não lhe abria portas”.
Saiba mais sobre Elza Soares
Nascida em 1930 na favela da Moça Bonita (Rio de Janeiro), Elza Gomes da Conceição enfrentou a miséria desde a infância. Forçada a se casar aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13 e aos 21 ficou viúva, criando cinco filhos sozinha enquanto trabalhava como lavadeira e operária. Sua vida foi marcada por tragédias: perdeu dois filhos ainda bebês pela fome, viu a mãe morrer em um acidente com o então companheiro Garrincha (que dirigia bêbado) e enterrou o filho que teve com o craque em 1986.
Revolução Artística e Resistência
Em 1953, seu talento rompeu barreiras no programa de calouros de Ary Barroso. Quando o apresentador zombou de sua aparência humilde, perguntando “De que planeta você veio?”, Elza respondeu: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary: do planeta fome”. Ao cantar, conquistou o primeiro lugar e Ary declarou: “Nasceu uma estrela”. Sua voz rouca e potente, comparada à de Louis Armstrong, tornou-se sua marca.
Seu primeiro single, “Se Acaso Você Chegasse” (1960), revolucionou ao misturar samba com scat jazzístico. Nos anos 1960, foi perseguida pela sociedade ao se relacionar com Garrincha — acusada de “quebrar famílias”, teve discos boicotados e sua casa atacada. Durante a ditadura militar, refugiou-se na Itália após sua residência ser metralhada.
Morreu em 20 de janeiro de 2022, data da morte de Garrincha e do orixá Oxóssi, encerrando uma trajetória que uniu arte e ativismo. Chico Buarque a definiu: “A flor é também uma ferida aberta”. Elza transformou dor em potência, tornando-se ícone da música e da resistência negra brasileira.