Talento e referência negra no mundo da moda
Por: Maurício Pestana
Páginas Pretas EDIÇÃO 234
VIDA NOTURNA AGITADA, ESCRITÓRIOS CORPORATIVOS QUE ABRIGAM EMPRESAS GLOBAIS, CONDOMÍNIOS DE LUXO E A CLASSE MÉDIA E MÉDIA ALTA DE SÃO PAULO. O ITAIM BIBI É ENDEREÇO DE UM DOS MAIS TRADICIONAIS SHOWROOMS DE MODA DO BRASIL, CRIADO HÁ 31 ANOS PELA EMPRESÁRIA PRETA NASCIMENTO, NA RUA DO CONSÓRCIO, 76.
Um dos nomes mais conhecidos na moda, ela é uma mulher negra que ingressou nesse universo ainda menina, como modelo. Desde então, não parou mais. Morou em vários países do mundo, modelando, e deu os rumos de seu futuro no segmento quando decidiu que gostaria de trabalhar com vendas.
Preta Nascimento é assim. Essa mulher elegante, determinada e talentosa, que construiu uma carreira e tem um lugar consolidado entre clientes famosas e anônimas, mas com alto poder aquisitivo, para consumir as peças exclusivas e de grandes estilistas que são vendidas em seu espaço.
À RAÇA, Preta contou sua história. Deu detalhes sobre o início da carreira e ainda falou com exclusividade sobre o processo de racismo que acabou de ganhar depois de passar por momentos constrangedores em um supermercado, que a acusou de passar notas falsas depois de ver que ela estava com diversas notas de cem reais em sua carteira.
O resultado do caso de Preta Nascimento é raro no Brasil. E a sentença proferida pelo desembargador Dr. Andrade Neto, mostra que há disposição em parte do judiciário, de rever e punir posturas que atentam contra a integridade física e moral de pessoas negras: “A autora é uma mulher da raça negra, sendo certo que a suspeita sobre a falsidade das cédulas dadas em pagamento não foi gerada por nenhum elemento objetivamente idôneo capaz de justificá-la, mas tão somente pela cor da mão que as exibiu.
RAÇA – Como foi o início da sua carreira como modelo?
Preta Nascimento – Eu comecei com 13 anos de idade. Por uma apresentação de uns amigos da minha mãe que conheciam um casal italiano que veio para o Brasil. Era um marquês e uma condessa italiana, a Bianca Lovatelli. A condessa veio com um dos costureiros que trabalhou com Valentino para montar um ateliê de alta costura no Brasil. Então eu participei de uma seleção na qual passei e então, passei, praticamente a viver e conviver com ela, pois eu ganhei um curso de boas maneiras, ballet, eu fazia contemporâneo, clássico. Ela também me deu aulas de postura para poder ser uma modelo, eu tinha 13 anos, comecei a trabalhar com ela, com exclusividade. E a partir daí eu fui morar no Rio de Janeiro, depois fomos fazer um trabalho em Nova York e desfiles. Quando eu estava aqui em São Paulo, no ateliê que ficava nos Jardins, a gente viajava para o Rio e fazia os desfiles dentro das casas da elite carioca e aí começou minha carreira de modelo. Eu trabalhei com ela durante cerca de 4 anos direto e com exclusividade e depois, quando fiquei maior de idade, já tinha agência aqui em São Paulo e me tornei uma modelo profissional. Foi aí que começou minha carreira de passarela mesmo e modelo fotográfica. Após essa fase aqui no Brasil, entre idas e vindas, morei na Itália, morei em Paris, em Singapura, onde desfilei bastante e sempre voltava para o Brasil. Eu ficava nessas viagens, com trabalhos nacionais e internacionais. Até que um grande amigo abriu sua própria confecção. Foi quando fui fazer desfiles de prova internos e comecei a me interessar muito por moda. Então ele foi minha porta.
Era o Márcio Rocha e Abrão Guerenstein e a marca chamava-se Tráfico. Eu fiquei apaixonada pela marca e eu era muito amiga do Márcio Rocha. E eu quis parar de desfilar e aprender uma nova profissão, de tão apaixonada que eu fiquei, eu queria ser vendedora. Daí começou toda uma carreira, quando eu estava desfilando para outras marcas, eu desfilava muito para o Tufi Duek, fazia as comissões internas para as boutiques multimarcas e para Tráfico. Comecei a ficar muito feliz com esse mercado e quis parar de desfilar. Nisso eu tinha 20 para 21 anos e comecei a aprender essa nova profissão. Dentro da Tráfico aprendi muita coisa, tudo praticamente. Eu terminava de fazer os desfiles para as boutiques multimarcas e atendia pedido. E me apaixonei. Passei a trabalhar como vendedora, em seguida trabalhei como assistente dos donos, Márcio Rocha e Abrão Guerenstein, então passei a atuar como gerente, gerente geral, fui diretora da marca e depois eu abri o meu showroom.
Eu trabalhei com eles por cerca de seis anos e abri em 1989 a Preta e Arthur Representações. E, desde então, estou há 31 anos na Rua do Consórcio 76. Aí começou o meu showroom de representação e lançamento de novas marcas do mercado.
RAÇA – Com quais marcas você já trabalhou e trabalha hoje em dia no seu showroom?
Preta Nascimento – A de mais sucesso e que sempre esteve e vai estar sempre no meu coração foi a Rosa Chá, do Amir Slama. Muitas mudaram de nome, mas tinha também a Madame X, que agora é Vitor Zerbinato. Além dessas teve André Lima, depois eu fiz um Amni Hot Spot com Paulo Borges (criador e fundador do São Paulo Fashion Week). Tem também o Walério Araújo, que é um estilista magnífico e maravilhoso como tantos outros, como André Lima.
Mas a que mais tempo eu trabalhei e cheguei a ser diretora comercial da marca foi a Rosa Chá. Ainda hoje eu continuo um trabalho com o próprio Amir Slama que é a marca Slama, uma marca de resort maravilhosa.
Leia a entrevista completa na EDIÇÃO 234