#TBT Muito além da consciência

Por: Flávia Cirino/ Fotos e tratamento: GLOBO/VICTOR POLLAK e ERIK FRANÇA

[EDIÇÃO 219 – 2019]

No Dia da Consciência Negra, 22 depoimentos reais de personalidades pretas vão ganhar eco na TV Globo. No especial “Falas Negras”, dirigido por Lázaro Ramos, um elenco de peso interpreta registros biográficos que a História nos ofereceu. Desde os relatos coloniais de Nzinga Mbande (Heloisa Jorge), que datam de 1626, aos ensinamentos pacifistas de Martin Luther King (Guilherme Silva), passando pela veemência de Malcolm X (Samuel Melo) e Angela Davis (Naruna Costa), até a força de Marielle Franco (Taís Araujo), ou as dores de Mirtes Souza (Tatiana Tibúrcio), mãe do menino Miguel, e Nelito Mattos Pinto (Silvio Guindane), pai do jovem João Pedro, “Falas Negras” vai mostrar que o espírito de luta e de resistência dos povos afrodescendentes em diáspora ultrapassa a barreira do tempo, os limites territoriais, e permanece vivo até os dias de hoje. A RAÇA Brasil conversou com exclusividade com o casal Taís Araújo e Lázaro Ramos e apresenta todos os 22 atores envolvidos no projeto.

“O 20 de novembro, para mim, é um marco, sim, um dia de luta. No meu caso, a reflexão é constante. Muitas
vezes fico pensando que, para ter saúde e força para seguir, preciso viver com outros temas que estão aí na minha vida, porque sou convocado o tempo todo. E, nas redes sociais, as pessoas me contam suas histórias particulares. Então, a consciência negra passa na minha vida durante os 365 dias do ano. Mas o dia 20 é uma data que foi conquistada após a sociedade compreender que esse é um estímulo para que a gente pense o nosso futuro. Não acho que seja apenas para falar do passado, mas sim, para falar sobre as feridas que ainda existem, como é que cada um pode contribuir para melhorar a situação. É uma data de mais uma conversa, ela estimula uma construção do futuro, sobre o que queremos para nossa sociedade”, comenta Lázaro, que conta com um elenco 100% negro e uma equipe de maioria negra para a realização do especial.

A tabelinha profissional com a mulher, Taís Araujo, acontece logo após os dois gravarem juntos, durante a
quarentena, um episódio da série “Amor e Sorte”. “Eu adoro ser dirigida pelo Lázaro. Ele é um diretor muito
afetuoso, ao mesmo tempo, é firme. Ele sabe muito o que quer e consegue passar para o ator, potencializando
esse artista. Não só o elenco, mas a equipe também. O clima no set que ele dirige é sempre muito bom porque
você sente a valorização de cada profissional. E cada um se sente valorizado e consequentemente está ali dando seu melhor. Então, é muito bonito de ver também enquanto companheira dele, o quanto ele é talentoso nesse lugar. No lugar da concepção, da criatividade, do maestro e no lugar do líder. Porque é muito importante
valorizar sua equipe e ele faz isso como ninguém”, elogia Taís.

Coube à atriz a missão de interpretar Marielle Franco no especial, numa escalação que partiu de Manuela
Dias, autora de “Amor de Mãe”, e idealizadora do “Falas Negras”. “Eu fiquei muito emocionada com o convite
porque a Marielle significa muito para mim, em muitos lugares. Eu fiquei muito feliz! É uma personagem muito importante para a história recente no Brasil”, garante Taís.

E a história de luta dos personagens é fio condutor do especial. Não há diálogos criados para o programa. Todas as falas vieram de registros históricos ou em vídeo, oriundos de um extenso trabalho de pesquisa feito por Thais Fragozo a antropóloga Aline Maia.

Lázaro Ramos, junto da assistente de direção Mayara Pacífico, conduziu por 10 dias ensaios feitos de forma remota, onde o elenco contou com a preparação de Tatiana Tibúrcio e teve verdadeiras aulas sobre a trajetória dos personagens, dadas por Aline Maia. Teresa Nabuco, que assina o figurino, Mauro Vicente Ferreira, responsável pela cenografia, Simoninha, que cuida da trilha sonora, também fazem parte da trupe que se juntou para dar forma ao especial.

“Procuramos atores que fossem bons contadores de história, porque o projeto, na verdade, é isso. Ele não tem
grandes movimentos de câmera e mudanças de cenários, aposta na capacidade de os atores contarem bem essa história, que é o que vai fazer com que o espectador se envolva com ela”, explica Lázaro. Um dos principais critérios para a escolha dos personagens foi que suas falas fossem reais, autobiográficas. Elas serão apresentadas em ordem temporal. “É claro que faltou gente. Mas acredito que as obras artísticas servem como
estímulo. No fim do meu espetáculo ‘O Topo da Montanha’, a gente fala o nome de algumas personalidades negras como homenagem, mas eu sempre digo para o público ‘quem faltou e está no seu coração, fale o nome agora’. Essa construção da homenagem pode ser coletiva também”. E sobre a escolha dos atores, Lázaro esclarece: “Quando vou fazer um projeto, procuro vários atores talentosos que eu sei que existem. Eu sei da qualidade dos atores que tenho no meu país. O difícil foi escolher entre um e outro. Às vezes, havia duas pessoas muito qualificadas para um mesmo personagem. Felizmente, eu tenho convivido ao longo do tempo como artista e como espectador com vários talentos negros que estão aí e merecem todas as oportunidades”, comenta ele, que também conta com vários rostos menos conhecidos do público de TV no elenco.”

Ainda assim, a verve artística do próprio Lázaro também gritou ao fazer o especial. “O Martin Luther King é o
personagem com que eu mais me identifico, e que eu pensei 20 vezes se não faria, fiquei realmente tentado a fazer.

Mas fico muito feliz com o ator que está fazendo. E tem projetos que eu posso construir como ator e como diretor.
Tem alguns que eu olho e penso que não tenho muito o que contribuir como ator, porque não vai ser desafiador
para mim, então acho que posso servir como outra coisa. Mas o ator nunca vai morrer, é onde que me sinto mais
útil”, explica ele.

De toda forma, se o Lázaro ator já nos conquistou há tempos, o Lázaro diretor também mostra a que veio e abre,
com o especial, cada vez mais espaço para profissionais negros no campo do audiovisual. “Temos uma equipe
majoritariamente negra, absurdamente potente, competente, pensando, realizando esse programa com um tema que a gente sempre quis ouvir, falar e contar. O público brasileiro vai ter a chance de ver um programa que foi realizado e concebido pela maioria dos profissionais negros que a gente tem dentro da TV Globo e isso me deixa muito feliz”, elogia Taís.

Leia mais: EDIÇÃO 219

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