Tem mulher africana na OMC.

A nigeriana Okonjo-Iweala, ex-ministra das finanças da Nigéria, acaba de ser indicada por unanimidade para a Direção Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Esta é a primeira vez que uma mulher e africana assume o posto mais alto desta organização multilateral de fundamental importância para a regulação do comércio internacional, em particular para os países em desenvolvimento como o Brasil e mais ainda para o continente africano.

Detalhe importante, ela só conseguiu a indicação após a vitória de Joe Biden e Kamalla Harris para o Governo norte-americano, visto que o Governo Trump a havia vetado sumariamente para o cargo. Isso revela a importância da vitória dos democratas não só para os Estados Unidos como também para o revigoramento dos tratados multilaterais.

A OMC, (instituição do Sistema ONU) foi criada em janeiro de 1995, com o objetivo de regulamentar e supervisionar o comercio internacional. Possui atualmente 162 países membros, dentre eles o Brasil e busca servir de fórum entre para dirimir conflitos de ordem comercial, que não são poucos. É regida por princípios importantes, tais como: o princípio da não-discriminação, que impede o tratamento diferenciado aos produtos internacionais em relação aos nacionais, da Concorrência Leal que visa garantir um comércio internacional justo e o princípio do Tratamento Especial e Diferenciado para os países em desenvolvimento.

Claro que as grandes potências, notadamente os Estados Unidos possuem forte influência na organização e não raro desequilibram suas decisões em favor dos seus interesses, mas a presença de uma representante africana na sua direção, pode não só simbolizar um novo momento do trabalho da OMC em relação a quebra de paradigmas discriminatórios como também um olhar e ações mais sérias quanto aos interesses comerciais do continente africano e dos países em desenvolvimento.

Neste sentido, é importante lembrar do alerta que o cientista político camaronês Achille M’Bembe nos faz no seu já antológico artigo a Era do Humanismo está Terminando: “As desigualdades continuarão a crescer em todo o mundo. Mas, longe de alimentar um ciclo renovado de lutas de classe, os conflitos sociais tomarão cada vez mais a forma de racismo, ultranacionalismo, sexismo, rivalidades étnicas e religiosas, xenofobia, homofobia e outras paixões mortais.”. Portanto, não nos custa nada acreditar na possibilidade de que uma mulher africana num espaço de poder como o da OMC possa contribuir para que essa profecia não se consume.

Por outro lado, todos nós sabemos que as ações predatórias dos grandes conglomerados empresariais nos países em desenvolvimento e em particular no continente africano tem sido a maior razão do aprofundamento das desigualdades econômicas e sociais no mundo atual. E mais uma vez é M’Bembe que nos alerta para o papel da política e dos políticos nessa quadra que estamos atravessando: “Neste contexto, os empreendedores políticos de maior sucesso serão aqueles que falarem de maneira convincente aos perdedores, aos homens e mulheres destruídos pela globalização e pelas suas identidades arruinadas.”

Enfim, é com essas duas observações em mente que saudamos a Dra. Okonjo-Iweala, por sua vitória e desejamos além do sucesso administrativo na sua gestão, que a mesma também alcance o sucesso político na redução das desigualdades de gênero e  raça, bem como econômica e social.

Toca a zabumba que a terra é nossa!

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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