Tina Turner – “Tive uma vida de abusos” 

Uma frase como esta dita por uma mulher negra em plena maturidade, não é pouca coisa, mas quando dita pela maior estrela negra do rock mundial, é um tapa na cara de quem acredita que basta ser famosa para alcançar respeito e dignidade. Essa frase célebre está numa entrevista que ela deu quando do lançamento do documentário sobre sua vida, intitulado Tina, lançado em 2021. A vida de Tina Turner transcorreu entre sucessos, tragédias e violências. Ela foi a grande musa negra do rock, ou melhor, a ‘Rainha do Rock’n Roll, durante anos, tendo vendido mais de 100 milhões de discos e ganho oito Grammys. Do mesmo modo, ela conquistou corações e mentes de milhões de fãs mundo afora, com sua voz potente e ousada presença de palco.

Tina pagou um preço alto para conquistar sua liberdade pessoal, assim como sua independência artística.  Apesar de ter feito grande sucesso inicialmente com a banda rock de seu primeiro marido, Ike Turner, chamada Kings ofRhythm, que a descobriu e lançou no mundo artístico, Tina viveu maus bocados com Ike. Foram dezesseis anos de um verdadeiro inferno conforme ela mesma revelou em inúmeras entrevistas e no documentário sobre sua vida. Ela foi vítima de violências de todas as ordens, agredida, tanto física quanto psicologicamente, inúmeras vezes. Estuprada outras tantas, além de praticamente ter sido obrigada a sustentar vício do marido em drogas pesadas,durante anos. Essa tragédia a levou literalmente ao esgotamento. E nessa crise tentou suicídio. Finalmente separou-se dele em 1976, abrindo mão de todos os bens que haviam construído juntos. 

Segundo ela mesmo afirmou, saiu do casamento com trinta e seis centavos de dólar e um cartão de crédito Mobil, na mão. É exatamente a partir dessa decisão radical que ela inicia sua carreira solo que a levaria ao topo do estrelato mundial. Por conta dessa decisão, viveu por quase dois anos com vale refeição e morando na casa de amigos, tendo em vista as inúmeras dívidas que contraiu ao romper com os contratos firmados pelo ex-marido. Mas, seguiu em frente. Em 2018, Tina sofreu outro grande trauma, o seu filho mais velho se suicidou com um tiro na cabeça. Mas, nenhuma dessas tragédias a impediu de brilhar e ser reconhecida internacionalmente como a grande interprete feminina do rock in roll. Ela fez do seu talento e da sua voz suas grandes aliadas na conquista da liberdade plena. 

No Brasil ela foi uma verdadeira febre nos anos 80, suas músicas eram presença certa em toda e qualquer festa naquele período. Em 1988, ela quebrou o recorde de público num show realizado no estádio do Maracanã, juntamente com Neguinho da Beija Flor, que entrou para o guiness book com o maior público pagante de todos os tempos (coisa rara no Brasil). Mais de 180 mil pessoasviram o show. Em 2021, a atual Ministra Margareth Menezes a representou no Programa Show dos Famosos da rede Globo e foi um verdadeiro sucesso, revelando o quanto Tina não só a influenciou, assim como inúmeras artistas negras pelo mundo. 

Tina era um verdadeiro furacão de sensualidade, ousadia, beleza e presença de palco. Ao partir aos 83 anos, Tina Turner deixa um legado de fazer inveja a tudo e a todos. E deixa um legado que serve de exemplo para a luta cotidiana que as mulheres negras precisam travar no mundo inteiro para serem reconhecidas e respeitadas como pessoas com pleno direito de estar e viver,  onde e do jeito que quiser. 

Toca a zabumba que a terra é nossa! 

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Mestre em Cultura e Sociedade pela Ufba. Ex-presidente da Fundação Palmares, atualmente é presidente da Fundação Pedro Calmon - Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

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