Revista Raça Brasil

Compartilhe

Tradições afro-brasileiras se tornam patrimônio e fortalecem a luta por respeito

Em meio a tantos desafios que o povo negro ainda enfrenta no Brasil, há momentos que aquecem o coração e trazem esperança. Um deles foi o recente reconhecimento, pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), dos Saberes do Rosário — representados pelos Reinados, Congados, Congadas e outras expressões afro-brasileiras — como patrimônio cultural do nosso país.

Essa conquista não é apenas um título. É um gesto de respeito, uma reparação histórica, uma forma de dizer: nossas tradições importam, nossas histórias precisam ser contadas e nossas raízes precisam ser protegidas.

Por trás desse reconhecimento, está a força de mestres, mestras, guardiões e comunidades inteiras que mantêm viva uma cultura passada de geração em geração. São memórias que resistiram à escravidão, à marginalização e ao racismo — e que continuam vivas nos cantos, nas danças, nas roupas, nos símbolos e nos saberes que atravessam séculos.

Reconhecer os Saberes do Rosário é também reconhecer a fé, a espiritualidade, a força coletiva e a beleza de um povo que, mesmo diante de tantas tentativas de silenciamento, nunca deixou de existir e resistir com dignidade.

E essa não é uma história isolada. No Pará, as Marujadas de São Benedito também foram reconhecidas como patrimônio, trazendo à tona a importância das tradições afro-amazônicas. No Amazonas, o quilombo Baixa da Xanda, berço do Boi Garantido, recebeu certificação como comunidade remanescente quilombola. É um reencontro com as origens, com as lutas e com a verdade.

A gente vive num país que muitas vezes preferiu esconder essas histórias. Mas como bem dizia Lélia Gonzalez, uma das vozes mais potentes da luta antirracista, é preciso reeducar o olhar. Parar de ver a cultura popular como algo neutro e entender que ela é feita de múltiplas raízes — especialmente africanas e indígenas — que merecem ser vistas e valorizadas por sua força e autenticidade.

Patrimônio não é só pedra, prédio ou museu. Patrimônio é tambor, é reza, é dança, é memória viva. É corpo, é território, é história contada com o coração.

Celebrar e proteger essas manifestações é uma forma de dizer: “Estamos aqui. Viemos de longe. E vamos continuar existindo com orgulho, com fé e com esperança.”

Publicidade

Open chat
Preciso de Ajuda
Olá 👋
Podemos te ajudar?